domingo, 17 de novembro de 2019

O que eu ouço quando você fala?

Já que o texto não é bom, ao menos a foto é bonita
Por muitas coisas acontecendo na minha vida, hoje e sempre, tirei alguns minutos para ficar em autopiedade, talvez porque veja tantas pessoas perversas se darem bem enquanto vejo gente bem esforçada se ferrando. Na verdade, já há uns dias eu venho fazendo um exercício de interpretação do que as pessoas dizem para mim.

Um exemplo: estou desempregada, como milhões de pessoas neste país que deveria ser cheio de oportunidades. Tenho amigos bem-intencionados que me mandam montes de links de empresas que estão em processos de seleção, e agradeço, porque não é possível olhar tudo quando estamos desesperadamente buscando uma colocação. Mas às vezes me pergunto se meus amigos não estão pensando que estou fazendo corpo mole, ou que não estou buscando o bastante por uma nova colocação?

Parece bobagem, não é? Mas, acredite, quando estamos fragilizados, a oficina dos entendimentos se abre e voa. Por exemplo, um colega do trabalho que acabou de me demitir chamou de volta a colega que foi demitida comigo. E ainda mandou uma mensagem de voz onde dizia que ela era muito talentosa e tinha um futuro brilhante.

Independente de eu saber disso perfeitamente (porque essa menina é realmente brilhante), me pergunto o que está por trás dessas palavras...

Eu não tenho nenhum futuro? Não tenho nenhum talento? Serei uma medíocre entre os piores? Mesmo que não seja, é assim que me sinto. É dessa maneira que estou me vendo estes tempos: como um grande fracasso. Alguém que não consegue manter um emprego, que não consegue ser contratada nem para fazer telemarketing (que, aliás, é das profissões mais difíceis do mundo).

Entenderam agora o que falei sobre autopiedade? Então... é isso. Quando isso acontece, me levanto, saio de casa, mesmo que a única coisa que eu queira seja me esconder de tudo e todos, o que não está muito difícil, já que se eu quiser ver amigos ou família, seja sempre eu quem tenha de me mover, mas saio e vou conversar com algumas pessoas.

Ando pelas ruas e vejo resiliência de sobra, coisa que não tenho tido muito, mas as pessoas que me passam essa força ensinam a continuar, mesmo que eu não tenha mais forças. Não me consola saber que há gente que está muito pior que eu, porque isso é mais uma prova de mundo injusto, mas essas pessoas engolem o choro e continuam. Afinal, amanhã é outro dia.

4 comentários:

  1. Às vezes precisamos olhar com muita atenção para o nosso umbigo! Acho que é preciso ter a completa consciência do que nos fragiliza, machuca, prejudica, faz sofrer... numa espécie de mergulho. O corpo inteiro submerso nessa descoberta ou redescoberta. Esticar o pescoço e conseguir tirar a cabeça para respirar. Mudamos a perspectiva. Pode ser mais fácil enxergar a situação, poder até falar do outro, resolver mudar de atitude, ver o problema com menos dor... Isso, acredito, não é autopiedade...

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  2. Eu tenho certeza que você Rita, é muito talentosa. Talvez as pessoas tenham medo desse seu talento.

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  3. Rita
    Quando pensamos muito no que o Outro está pensando enquanto falamos...
    Perdemos não estar falando o que o Outro quer ouvir
    Perdemos a naturalidade...
    E o Resto você já sabe...

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