Viver em paz está cada vez mais difícil
Acabo de ler uma frase, de Einstein, que, como muitas
outras, calou fundo na minha alma. “É mais fácil desintegrar um átomo do que um
preconceito”. Fiquei pensando em tudo o que vi, ouvi ou li esta semana e
cheguei á conclusão de que isso é uma grande verdade. E no país que já foi mais
democrático até em ditaduras cruéis, vejo esses preconceitos virem aos lábios
das pessoas como uma baba descontrolada.
Uma pessoa fez uma coisa muito errada, e foi morta com um
tiro. Uma pessoa que deveria tentar resolver um problema comemorou a morte, e
não sozinho, devo dizer. Porque mais de três mil anos se passaram e ainda
acredita-se na lei do talião? Ou, pior, porque continuamos acreditando que um
erro justifica outro?
Vamos começar por uma coisa básica chamada de direito inato.
Quando nascemos, nem sabemos quem são nossos pais e só reconhecemos cheiros
familiares, mas já nascemos com direito à vida, à saúde, ao alimento, a casa,
educação, liberdade etc. O que se faz quando esses direitos lhe são negados?
Como lutar? Com quais armas?
Ouvi uma pessoa perguntando a mim se eu tinha dó do cara
morto e eu disse sim. O cara só faltou me cuspir a cara, porque afinal é um
eterno “nós contra eles”. Eu sou boazinha e o resto é tudo lobo mau. Bem meu
caro colega, não é assim. Porque você, do alto de seu preconceito não viu que
você poderia ser aquele cara. No dia seguinte você foi tratado com
inferioridade e preconceito pelo porteiro de uma escola. Por quê? Por causa da
cor da sua pele. E eu estava lá para dizer que você era aquele cara que foi
fuzilado, mas preferi ser solidária.
Eu, muitas vezes, sou tratada como inferior, afinal como eu
ouso ter um cérebro funcional sendo do sexo feminino? Como eu ouso querer que
as coisas sejam melhores para todos? Como eu ouso pensar que devemos usar a
cabeça antes de fazer algo que vai afetar outras vidas?
Estou divagando sobre os temas, que meio que se misturam.
Vejo homens medíocres decidindo sobre as vidas de mulheres. Vejo pessoas do mal
decidindo que uma floresta pode ser queimada sem afetar todo um equilíbrio
mundial. Vejo gente que acredita que atirar na cabeça de alguém vai solucionar
a violência. Que afogar tudo em agrotóxico vai gerar mais alimento. Que
enlouquecer as pessoas exigindo delas mais do que elas podem oferecer está
certo.
Lamento. Não sou especialista, mas tenho a certeza de que
isso não vai nos levar a parte alguma. E ficar jogando bobagens ao vento também
não vai fazer de uma mentira uma verdade. Como eu sei disso? Eu observo. Eu
protesto. Prefiro usar palavras vindas da experiência de quem sabe muito mais
que eu. E são muitos.
Porque alguém que fala qualquer bobagem sem o menor
conhecimento de causa está mais certo que alguém estudado e versado sobre um
assunto? É isso, meus caros, que significa o preconceito. Porque o preconceito
não nasce da sabedoria, nasce do pensamento raso, medíocre e mau.
Não esqueçam, antes de vomitar seus preconceitos usando
palavras e atos maus, que mulheres e homens foram jogados na fogueira, acusados
de bruxaria, pelo simples ato de escrever com a mão esquerda; ou porque os
olhos eram verdes; ou ainda porque descobriram que eram seres sexuais.
Mulheres são estupradas, violadas das mais diversas maneiras
apenas por serem mulheres. E depois de vitimadas ainda são acusadas de “terem
pedido isso”.
Pessoas olham um afrodescendente com olhos de desconfiança
apenas por conta da cor de sua pele. Gente burra que não sabe a diferença entre
genótipo e fenótipo, coisa que aprendi com professores de biologia.
Mas como eu falei no começo, usando as palavras de Einstein: “É mais fácil desintegrar um átomo...”.
Eu deveria terminar com essa frase aí em cima, mas não
consigo tirar do meu pensamento uma frase dita por uma pessoa que um dia
acreditei ser do bem: “quando Deus marca um é para não perder de vista”. É
claro que isso não era usado para dizer que aquele sofredor teria sua
recompensa, e sim que esta ou aquela pessoa merecia castigos inenarráveis. Só
percebi isso anos depois, mas era preconceito puro saindo da boca da pessoa.
E vou usar o exemplo para fazer alguém pensar. Você
realmente acredita que precisa ser excluído e espoliado de todos os seus
direitos? Que algum ser superior (Deus) quer isso? Creio que acreditamos em
deuses diferentes então...
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