O mundo muda toda hora, e, apesar das propagandas, muitas vezes não é para melhor.
Principalmente vemos isto aqui no Brasil, onde as pessoas
nem conseguem mais entender o significado de palavras como “Lei”, “direitos
adquiridos”, “interpretação de texto”, “fatos”.
Para entender essas coisas precisamos de instituições, como
escolas, universidades, e bibliotecas.
Antes de levar isso adiante, escolas e universidades não são
depósitos de crianças e jovens. São espaços de aprendizado e convivência dos
quais a sociedade precisa participar mais. Educação não é feita só com alunos e
professores, mas com toda a comunidade.
Do mesmo modo, bibliotecas não são depósitos de livros, são
espaços de aprendizado e convivência que precisam ser conhecidos.
Cansei de ouvir frases preguiçosas de quem não quer mexer um dedo para mudar nada, mas adora criticar.
Abaixo a mediocridade
Você já ouviu coisas como: “as crianças de hoje não querem
estudar”? “professores não querem ensinar”, e outras pérolas preconceituosas do
tipo?
Isso sai das mesmas bocas que dizem dormir quando leem.
Essas são as pessoas que acreditam que todas as respostas do
mundo estão em seus celulares.
Falemos com clareza, respostas algorítmicas são encontradas
nas páginas da internet, mas também muitas respostas erradas.
De onde vocês acham que vem o “terraplanismo”?
Não quero afirmar que não há erros nos livros, ou que todos
os livros são fundamentais, mas a maioria é sim!
De acordo com dados dos bibliotecários, o Brasil tinha, em
2019, 6057 bibliotecas públicas municipais, estaduais e de instituições de ensino.
Antes das pessoas se perguntarem se esse número é alto ou
baixo, gostaria de colocar que a Índia possui 146 mil bibliotecas, seguida pela
Rússia, com 37 mil.
O Brasil, com seus 200 milhões de habitantes tem a mesma
quantidade de bibliotecas que a Itália, que tem menos de um terço da nossa
população.
Precisamos retomar a inteligência bibliotecária
Sei que estamos nos
tempos em que é quase um palavrão dizer que leu um livro ou que tem alguma
cultura. E não estou falando das pessoas que não tiveram a oportunidade de estudar,
até porque eu sou filha da escola pública, e aprendi muito.
Quanto às bibliotecas, sou do tempo em que fazíamos
trabalhos dentro dessas instituições. E foi onde aprendi a fazer a bibliografia
e a informação das fontes que usei para escrever o trabalho.
Quando eu era mais jovem eu ia ao menos uma vez por semana
para devolver e retirar os livros que eu lia.
Já naquela época existia gente que achava biblioteca inútil,
e dizia que os jovens não gostavam de ler.
Grande mentira. Impedir um jovem de ler é tirar dele o
direito a ter imaginação.
Livros existem para nos abrir corações e mentes.
Bibliotecas existem para guardar livros de todos os tipos
para que aqueles que não podem comprar tenham como acessar os conteúdos.
Bibliotecas atuais mudaram seus perfis e se tornaram mais
democráticas, acolhendo atividades antes inexistentes, como aulas teatrais, drama
terapia, clubes de leitura e contação de histórias.
Precisamos de mais bibliotecas. Mais espaços onde possamos
encontrar livros que nos falem ao coração. Mais espaços de convivência onde a
gente troque ideias, faça amigos e adquira conhecimento.
O Brasil precisa voltar aos trilhos e criar uma geração que
seja criativa, que pare de acreditar em todas as tolices que lê nas redes
sociais.
Precisamos voltar a ter livros que nos façam questionar
tudo.
Vou contar duas histórias de biblioteca que colocam na
balança a necessidade de livros e de espaços onde a obra literária é
compartilhada.
A primeira é antiga, dos tempos da primeira expansão muçulmana na Idade Média.
O sultão Omar, em sua sanha de conquistar terras para o
Islã, invadiu o Egito. Lá havia a biblioteca de Alexandria, a maior do mundo
antigo.
Preciso dizer que o sultão queimou tudo?
Mas, por quê? De acordo com os relatos, Omar disse: “esses
livros dizem o oposto do Alcorão, e são perigosos. Ou dizem a mesma coisa que o
Alcorão, e são inúteis”.
Não há provas desse ato, mas a biblioteca queimou...
A segunda história é pessoal
Há uns anos fiz um trabalho para o SESC São Paulo, que criou
bibliotecas dentro de ônibus, que se moviam pelas regiões mais pobres da capital
paulista.
Em todas as partes por onde passava a biblioteca, víamos
muitas crianças que nem tinham sapatos para colocar nos pés, mas todas tinham
um brilho nos olhos quando descobriam que podiam levar os livros para ler em
casa.
Não sei se ainda existem essas bibliotecas (espero que sim),
mas quero que saibam que as crianças vinham a cada semana devolver os livros e pegar
novos para ler.
O brilho nos olhos
permanecia, pois devolvemos a imaginação daquela criança.
O papel da biblioteca é servir as comunidades, independente de
condição social, raça, crença, sexo.
Só assim a biblioteca poderá despertar nas pessoas a
consciência da participação social e levar a informação e o conhecimento a
todos os cidadãos.
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