Esta é a semana das crianças e dos professores. Semana
difícil para quem mora neste país, porque este é um país (e não uma nação), que
fala em escola pública como se isso fosse uma despesa e não um investimento. E
dá-lhe corte de orçamento!
Lembro de uma série de TV, em que um personagem dizia que
escolas deveriam ser palácios, e sei que nem é isso que os professores a quem espero
homenagear desejam. Eles querem apenas um ambiente mais saudável para poder
fornecer a instrução necessária para seus pupilos.
Vemos verdadeiras histórias de horror envolvendo violência
de alunos contra professores; de professores contra alunos; de alunos contra
alunos. Mas o que espero deixar claro é que isso não é uma regra. A grande
maioria está apenas tentando fazer alguma coisa. Uma coisa que deveria começar
em casa: a diferença entre certo e errado. E é simples... se você está fazendo
algo que não gostaria que fizessem a você, provavelmente está errado.
Qualquer coisa que envolva violência está errada. Aprendi
isso dentro de casa, com meus pais, que diziam sempre: “brincadeira de mão
nunca dá certo! Mas não tive apenas pais presentes, e, veja bem, os dois
trabalhavam fora o dia todo. Não havia presença constante, mas havia a parte deles
e ainda há em cada mínimo gesto. De fazer a cama todas as manhãs ou de me
sentar à mesa para tomar café, mesmo que eu esteja só.
E aí entra a parte dos professores. Tive ótimos professores
e também professores apenas medianos, e não tenho todos na memória, apenas
alguns muito marcantes. E hoje vou usar a melhor professora de História do
mundo para homenagear todos. Dona Neide... nem lembro o sobrenome dela, mas foi
minha professora no ginásio, nos primeiros anos da década de 1970. Porque ela
era a melhor? Porque ela discutia.
Com a Dona Neide aprendi muito mais do que datas e fatos.
Aprendi que história é uma série de momentos que devem ser lembrados e
estudados com cuidado para que não se repitam os erros. Com ela aprendi que
nada é preto no branco. Tudo é formado por pequenas coisas e a História nos faz
tomar uma distância analítica que consegue ver o todo, e perceber que nada é o
que parece.
Em um tempo onde vivíamos um regime de exceção ((falando
claramente, uma ditadura), a sala da Dona Neide era um oásis no qual a
liberdade de pensamento imperava. Hoje, quando vejo tantos idiotas falando que
aqueles tempos só eram ruins para pessoas mal comportadas, sinto que deveríamos
ter milhares de Donas Neides para dar um croque na cabeça dessas mentes vazias
e fúteis, e mostrar que todos têm direitos e deveres, e naquela época (como
ando vendo agora), tudo o que se quer é calar a discussão, porque gente
ignorante não questiona, não discute, não luta por nada.
Recentemente estive trabalhando com algumas pessoas bem mais
jovens que eu, todos muito bem preparados para as novidades tecnológicas, mas
sem referências (coisa essencial na minha profissão), e com um linguajar cada
vez mais pobre. Pessoas que falam mais de um idioma, mas que não conseguem usar
nem 500 palavras em língua portuguesa. Pessoas que viajam o mundo todo, mas não
conseguem se aculturar e absorver o que o mundo oferece de melhor: temos que
evoluir e para evoluir temos que lutar uns pelos outros.
Essa talvez foi a maior lição da Dona Neide. Que a
humanidade vai continuar batendo cabeça enquanto não percebermos que estamos aqui
para apoiar uns aos outros e não para pisarmos uns nos outros só para chegar em
uma posição mais alta.
Hoje, vendo tanta bobagem sendo escrita a torto e a direito,
sinto falta da Dona Neide. Ela não tratava ninguém com luvas de pelica. Era
sempre direta e objetiva. E quando dava sua aula de história, nos ensinava
também como deveria ser a vida.
Esse é o meu Feliz Dia dos Professores a todos esses
abnegados que escolheram a profissão de ensinar pessoas como eu, que com esse
texto tosco tentou homenagear uma professora obscura do Wallace Simonsen dos
anos 70. Mas, pensem: se ela não fosse extraordinária, eu nem lembraria dela
mais de 40 anos depois.
Em tempo: a foto é do prédio antigo do colégio. Mas, já que eu estou usando recordações, pensei que deveria fazer isso direito!
Hoje, 16 de fevereiro de 2021, me lembrei de uma aula de história da Dna Neide, no Wallace. Deve ter sido em 1974, era sobre a Revolução Francesa, fiz uma pesquisa no Google e achei essa matéria sua Rita. Viajei no tempo... Quão maravilhosa ela era! Então creio que fomos colegas, eu não me lembro de você, mas é bem provável que sejamos contemporâneas desses áureos tempos. Se ajudar, naquele ano o prédio do Wallace tremeu e o piso do andar de cima saiu todo aff!
ResponderExcluirCaramba! Certamente fomos colegas. Não me recordo do seu nome, mas lembro desse "tremor do piso". Que saudades da Neide!
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