Ao andar pelo centro velho de São Paulo, sempre me surpreendo com a paisagem.
Um lado dela me entristece, porque vejo muitas pessoas no
abandono.
Onde foi parar o tal de “país do futuro”?
Não sei, mas sei onde estão algumas construções do passado.
Como a Igreja do Carmo, que conheci ainda menina, quando ia
ao centro com meu pai ou minha mãe.
No edifício ao lado, a Secretaria da Fazenda, muitos da minha
família trabalharam.
A atual tem sua obra datada entre 1747 e 1758.
Mas a ordem construiu sua primeira igreja entre 1676 e 1691.
A chamada ‘Capela da Venerável Ordem Terceira do Carmo’, ou
ainda ‘Capela dos Terceiros do Carmo’ é da segunda metade do século XVII.
A obra original foi de leigos, a maioria de bandeirantes.
Era uma capela contígua ao Convento do Carmo de São Paulo (inaugurado
em 1592 e demolido em 1928).
As datas iniciais são incertas, tendo na porta também a data
de inauguração de 1632.
A igreja que ainda está em pé foi erguida em taipa de pilão,
ganhando ampliação entre 1772 e 1802.
Como já mencionado, a ampliação e o frontão foram executados
por Joaquim Pinto de Oliveira, conhecido como "Tebas, o arquiteto escravo”.
(veja aqui)
Em 1929, o templo passou por uma ampla reforma, sendo parcialmente reconstruído.
A Igreja do Carmo abriga obras que representam grandemente a arte colonial paulista.
Vemos imagens do estilo barroco paulista, como esse Bom
Jesus com cabelos humanos.
As pinturas dos tetos da capela-mor e do coro são de autoria
do mestre ituano Frei Jesuíno do Monte Carmelo.
O altar é rococó tardio do século XVIII.
Os painéis vieram do demolido Recolhimento de Santa Teresa
da ordem das irmãs carmelitas descalças.
A igreja é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN) e pelo CONPRESP.
A primeira capela dos Terceiros
A Ordem Terceira do Carmo é formada por irmãos leigos, que
não tomam o hábito, mas seguem uma regra de conduta e fé.
Não se sabe ao certo a data de fundação da Ordem Terceira em São Paulo.
Os documentos datados de 1620 foram perdidos, mas é dado o
final do século XVI (1592 mais ou menos) como data do estabelecimento dos
frades carmelitas na vila de São Paulo.
A primeira capela dos Terceiros é do último quarto do século
XVII.
O certo é que em 1692 os irmãos leigos já realizavam suas
preces em sua própria capela.
Em outubro de 1747, decidiu-se pela construção de uma nova
capela, já que a Ordem cresceu.
No período todas as igrejas antigas da Colônia estavam em reforma
ou sendo reconstruídas.
Fachada da Igreja da colônia, do Reino Unido, Império até hoje
As decorações internas e externas da Capela têm altos e
baixos que começam por volta de 1758, e seguem por anos a fio até que o Tebas
conclui a parte externa, frontispício e torre (a partir de 1772).
O frontispício e sua torre foram construídos com um elemento
que, até então, tinha sido pouco utilizado: a pedra de cantaria ou pedra
talhada.
A taipa de pilão das paredes é trocada por tijolos feitos
nas proximidades do que hoje é o grande ABC.
Muitos nomes estão ligados ao interior, como o irmão
Terceiro Antônio Ludovico e o pintor João Pereira da Silva, responsáveis pelo
retábulo do altar mor e colaterais, além do altar do Senhor da Pedra Fria.
Muitas mudanças aconteceram até chegar à igreja do Carmo do
século XXI que eu fotografei.
A ordem Terceira construiu, derrubou, utilizou e reciclou
muitos dos objetos da capela, que viu a Piratininga se tornar a São Paulo de
agora.
Suas paredes viram a migração das entradas e bandeiras e
nossa corrida por ouro.
A atividade econômica iniciada nesses períodos e que
permanece até os dias de hoje.
Suas paredes viram batalhas internas do Brasil; viram
guerras externas.
Seu frontispício executado por Joaquim Pinto de Oliveira, o
Tebas, viu a capital paulista se tornar a megalópole.
Sua nave, ornamentada com obras de Padre Jesuíno do Monte
Carmelo e José Patrício Manso (Nossa Senhora com o Menino e Santa Tereza),
testemunham a São Paulo colonial até o agora pandêmico.
O fim do conjunto
carmelita e o ponto turístico
As construções originárias do séculos XVI e XVII não existem
mais.
Em seu lugar está a Secretaria da Fazenda.
As ordens religiosas foram mudadas para a Bela Vista.
Mas o que restou, ainda guarda um conjunto significativo da
arte colonial paulista.
A obra de Frei Jesuíno do Monte Carmelo foi resgatada em
2006 pelo IPHAN.
No forro, pobremente fotografado por mim, 24 beatos e 18
quadros que reconstituem a vida de Santa Teresa.
Hoje a igreja faz parte do roteiro temático Arquitetura pelo
Centro Histórico de São Paulo.
E continuará a ver as transformações boas e as ruins da
metrópole.
Esperemos que por mais 400 anos.
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