quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Ordem Terceira do Carmo e a arte colonial paulista

 


Ao andar pelo centro velho de São Paulo, sempre me surpreendo com a paisagem.

Um lado dela me entristece, porque vejo muitas pessoas no abandono.

Onde foi parar o tal de “país do futuro”?

Não sei, mas sei onde estão algumas construções do passado.

Como a Igreja do Carmo, que conheci ainda menina, quando ia ao centro com meu pai ou minha mãe.

No edifício ao lado, a Secretaria da Fazenda, muitos da minha família trabalharam.

A atual tem sua obra datada entre 1747 e 1758.

Mas a ordem construiu sua primeira igreja entre 1676 e 1691.

A chamada ‘Capela da Venerável Ordem Terceira do Carmo’, ou ainda ‘Capela dos Terceiros do Carmo’ é da segunda metade do século XVII.

A obra original foi de leigos, a maioria de bandeirantes.

Era uma capela contígua ao Convento do Carmo de São Paulo (inaugurado em 1592 e demolido em 1928).

As datas iniciais são incertas, tendo na porta também a data de inauguração de 1632.

A igreja que ainda está em pé foi erguida em taipa de pilão, ganhando ampliação entre 1772 e 1802.

Como já mencionado, a ampliação e o frontão foram executados por Joaquim Pinto de Oliveira, conhecido como "Tebas, o arquiteto escravo”. (veja aqui)

Em 1929, o templo passou por uma ampla reforma, sendo parcialmente reconstruído.

A Igreja do Carmo abriga obras que representam grandemente a arte colonial paulista.


Vemos imagens do estilo barroco paulista, como esse Bom Jesus com cabelos humanos.

As pinturas dos tetos da capela-mor e do coro são de autoria do mestre ituano Frei Jesuíno do Monte Carmelo.

O altar é rococó tardio do século XVIII.

Os painéis vieram do demolido Recolhimento de Santa Teresa da ordem das irmãs carmelitas descalças.

A igreja é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e pelo CONPRESP.

A primeira capela dos Terceiros


A Ordem Terceira do Carmo é formada por irmãos leigos, que não tomam o hábito, mas seguem uma regra de conduta e fé.

Não se sabe ao certo a data de fundação da Ordem Terceira em São Paulo.


Os documentos datados de 1620 foram perdidos, mas é dado o final do século XVI (1592 mais ou menos) como data do estabelecimento dos frades carmelitas na vila de São Paulo.

A primeira capela dos Terceiros é do último quarto do século XVII.

O certo é que em 1692 os irmãos leigos já realizavam suas preces em sua própria capela.

Em outubro de 1747, decidiu-se pela construção de uma nova capela, já que a Ordem cresceu.

No período todas as igrejas antigas da Colônia estavam em reforma ou sendo reconstruídas.

Fachada da Igreja da colônia, do Reino Unido, Império até hoje


As decorações internas e externas da Capela têm altos e baixos que começam por volta de 1758, e seguem por anos a fio até que o Tebas conclui a parte externa, frontispício e torre (a partir de 1772).

O frontispício e sua torre foram construídos com um elemento que, até então, tinha sido pouco utilizado: a pedra de cantaria ou pedra talhada.

A taipa de pilão das paredes é trocada por tijolos feitos nas proximidades do que hoje é o grande ABC.

Muitos nomes estão ligados ao interior, como o irmão Terceiro Antônio Ludovico e o pintor João Pereira da Silva, responsáveis pelo retábulo do altar mor e colaterais, além do altar do Senhor da Pedra Fria.

Muitas mudanças aconteceram até chegar à igreja do Carmo do século XXI que eu fotografei.

A ordem Terceira construiu, derrubou, utilizou e reciclou muitos dos objetos da capela, que viu a Piratininga se tornar a São Paulo de agora.

Suas paredes viram a migração das entradas e bandeiras e nossa corrida por ouro.

A atividade econômica iniciada nesses períodos e que permanece até os dias de hoje.

Suas paredes viram batalhas internas do Brasil; viram guerras externas.

Seu frontispício executado por Joaquim Pinto de Oliveira, o Tebas, viu a capital paulista se tornar a megalópole.

Sua nave, ornamentada com obras de Padre Jesuíno do Monte Carmelo e José Patrício Manso (Nossa Senhora com o Menino e Santa Tereza), testemunham a São Paulo colonial até o agora pandêmico.

O fim do conjunto carmelita e o ponto turístico

As construções originárias do séculos XVI e XVII não existem mais.

Em seu lugar está a Secretaria da Fazenda.

As ordens religiosas foram mudadas para a Bela Vista.

Mas o que restou, ainda guarda um conjunto significativo da arte colonial paulista.

A obra de Frei Jesuíno do Monte Carmelo foi resgatada em 2006 pelo IPHAN.

No forro, pobremente fotografado por mim, 24 beatos e 18 quadros que reconstituem a vida de Santa Teresa.

Hoje a igreja faz parte do roteiro temático Arquitetura pelo Centro Histórico de São Paulo.

E continuará a ver as transformações boas e as ruins da metrópole.

Esperemos que por mais 400 anos.

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