Caminhar por São Paulo
Andar pelas ruas do centro velho de São Paulo é constatar e se entristecer com o abandono local
Para mostrar
aqui mais um pouco de mim, digo ao leitor que gosto de andar pelo centro velho
de São Paulo. Não importa o dia da semana, sempre há algo para ver na cidade. O
passeio que descrevo aqui meio melancolicamente, aconteceu em um sábado, nos
primeiros meses de 2017, e eu queria ver como andavam as coisas “sob nova
direção”.
Nesta vez
resolvi começar pela São Bento, onde aproveitaria para dar uma olhada no
Mosteiro, cujas obras de restauro, muito divulgadas, deveriam estar terminadas.
Mas não... Ainda falta muito. A estação do metrô, onde antes havia lojas,
restaurantes, movimento, arte, estava abandonada. Nem mesmo as bancas de revistas
e os Hare Krishnas estavam no local.
No largo,
olho para os arredores, a Florêncio de Abreu efervescente de pessoas em busca
de ferramentas ou de uma descida mais para o centro da Rua 25 de Março. O
viaduto Santa Ifigênia tomado por ambulantes e sem teto, numa desordem só
admitida nesta louca cidade. Mas hoje não é dia de comprar aviamentos,
ferramentas nem eletrônicos. É dia de andar pela minha cidade natal e ver o
centro que eu tanto amo.
Caminho pela
Rua São Bento em direção à Praça Patriarca, e vejo uma região, antes cheia de
lojas movimentadas e pessoas andando para lá e para cá, com portas fechadas.
Alguns lugares transformados em estacionamentos improvisados, outros servido de
abrigo aos moradores de rua e às pessoas sem eira nem beira.
Igreja de Santo Antônio
Chego à
Patriarca e vejo uma feira, ou quermesse, improvisada, com barracas de quitutes
e bebidas que tampam qualquer paisagem local, inclusive a Igreja de Santo
Antonio, um dos exemplares do Barroco Paulista mais bonitos, mas que está com
as portas fechadas devido à tal feira. Me entristeço, porque ia passar para dar
uma olhada e fazer uma prece. Mas não há prece que resolva aquele batalhão de
miseráveis pelo caminho, à procura de saciar uma fome que nem deveria existir
mais...
Continuo até
o largo de São Francisco, com menos gente largada, e as calçadas da faculdade
(que vejo de portas fechadas pela primeira vez) são uma mistura de gosma de
cerveja seca pelo sol causticante e a sujeira vinda de poeira trazida de todas
as partes.
Entro na
Igreja de São Francisco, mas o alarido dos visitantes fazendo turismo no local torna
impossível qualquer meditação. Saio e entro na igreja das Chagas, sento,
aprecio aquele belo exemplar colonial e suas paredes de taipa. Na saída
converso alguns momentos com um pedinte inusitado, que não está procurando
dinheiro, mas pergunta por trabalho. É caseiro, ele me diz, e procura algum
lugar que precise de seus serviços, como milhões de pessoas neste país, ele
ficou de escanteio na hora de decidir os rumos econômicos.
Despeço-me e
vou em direção à Praça João Mendes andar mais um pouco e, quem sabe (?),
garimpar um pouco nos sebos da região. Nada me chama a atenção para leitura,
exceto o grande número de pessoas dentro do Sebo do Messias, muitos ainda à
busca de livros didáticos.
Mas, o que
mais chama a atenção, é que este é o primeiro local onde a vida ainda faz a
cidade respirar. Vejo gente! Como alguma coisa na Padaria Santa Teresa
(funcionando desde 1872!), com seus belos salões e fotos antigas nas paredes, e saio em direção ao bairro da Liberdade. Novamente
muitas barracas espalhadas sem ordem, vendendo um artesanato que nem passa
perto de ser oriental, além das de bebidas e comidas que tampam tudo, até a
entrada da Santa Cruz dos Enforcados, também fechada.
No
bairro,além de um sem número de sebos, onde pessoas ávidas por leitura ,como
eu, encontram desde os livros mais comuns até os mais raros, pode-se fazer
comprar de cosméticos na Ikesaki, entrar pelas pequenas galerias de lojinhas
que vendem de tudo,ou mesmo comprar alimentos não encontráveis em outras
partes, como cogumelos de diversos tipos, alguns vegetais usados na culinária
oriental, refrigerantes e bebidas importados, panelas, louças e muito mais.
Resolvo
entrar no metrô e voltar para casa, mas, antes, driblar a manifestação
inusitada de veganos, com rostos cobertos por máscaras de animais, eles
protestam para ouvidos surdos e bocas cheias de porco chop suey e tempurás de
camarão, ou por um “soba” de todas as carnes.
Fujo da
bagunça e entro na estação em direção ao Jabaquara. Percebo o trem parado e
ouço no áudio: “estamos aguardando instruções para seguir viagem. Devido a uma
falha na São Bento, os trens estão com velocidade reduzida e maior tempo de
parada”. Cheguei duas horas depois em Piraporinha...
Observação: propositalmente utilizei fotos antigas (essa Ikesaki é a primeira de uma cadeia de lojas). Talvez para lembrar o tempo em que a cidade era mais gentil e as pessoas menos esbaforidas. Também para destacar que esta cidade louca tem história, tradição (montes de sebos) e coisas que precisam ser preservadas!
O que achou desse artigo? Leia,opine, conte as experiências que tem em sua cidade.
Nossa, faltou só falar do nosso Mappin, com uma foto das suas seções...mas isso nem era desse século kkk
ResponderExcluirPior a Florêncio morreu, não tem mais as lojas de ferramentas e saudades da Ferimpex, entre outras...
O Largo São Bento é o que mais dó dá!
Pensar que ali comprei um sorvete para minha namorada, e que virou esposa...
Hoje, nem bilhete do Metro se vende por lá...
Um lixo...que já foi um luxo