segunda-feira, 30 de março de 2020

Abrir o coração em tempos de solidão


Nessa meleca de pandemia que nos atingiu bem na cara, muitas são as medidas de precaução. Não tocar, ficar longe; sair apenas se necessário; muita limpeza e muito asseio. Mas deveria haver outras especiais, para nos dizer o que fazer com a solidão.
Querem saber? Mesmo que o ato de escrever ou ler seja solitário, a interação mínima é necessária. Mas não qualquer interação. Não serve um estranho (a) educado. Não vale alguém na fila do mercado. E definitivamente, não serve aquela pessoa que não entende o que você fala, ou aquela cuja única resposta é a agressão pura e simples.

Veja bem, não sou nenhum gênio cheio de respostas. Há vezes em que duvido de qualquer talento meu, porque se eu tivesse isso não seria tão difícil viver, sobreviver, aturar, não sufocar. Mas há horas que vejo e ouço pessoas que só vomitam palavras que apenas são os ecos de seus próprios preconceitos e isso me deixa muda, porque sei que se eu responder o que virá de volta é uma agressão.

O argumento de quem não pensa e não tem argumento é a violência. Verbal, física, psicológica.

Com esse panorama pandêmico, tenho evitado interações com as pessoas do meu bairro, que já não são as melhores em tempos de paz, que dirá em tempos nos quais tudo o que vemos é um jogo de poder inútil, de um querendo mostrar que o “seu é o melhor”. Puro jogo de briga entre os moleques da rua de baixo com os da rua de cima. Não importa! O campinho de futebol que gerou a disputa não existe mais. É hora de parar a briga.

Mas parece que ninguém quer parar. Porque acreditam que é mais importante que seu lado vença, mesmo que seja o lado errado, ou que não tenha lado certo. Certa vez, trabalhando em uma eleição numa cidade que tinha mais problemas que soluções possíveis, pensei comigo que aquelas pessoas na disputa eleitoral estavam brigando sobre um cadáver feito animais carniceiros. É o que vejo agora e por isso meu isolamento está maior que nunca.

Não é medo do Corona vírus. Não tenho medo de morrer, mas tenho medo de viver em um mundo que não muda, perto de pessoas que não evoluem, que não aprendem com os erros, que persistem na mesquinharia. Tenho lido muitas frases otimistas para levantar a moral em tempos difíceis como esses, mas confesso que estou em uma grande crise de fé. Posso até ouvir dizerem que Deus nos sustenta, mas acho que ele tem coisa mais importante para fazer do que olhar para minha pequenez.

Como muitas pessoas estou fragilizada, sem saber o que vai acontecer depois que isso passar. Não sei o que será de nós amanhã. Gostaria que as pessoas pensassem mais no coletivo do que no individual; que vissem que toda vida importa, mesmo que esteja do outro lado do planeta; que não importa se é jovem ou idoso. Não é só o vírus que mata. A ignorância também, e a ignorância é mão da violência. Não sei se quero mais viver em um mundo assim.

Ontem, por alguns momentos e após uma luta com a tecnologia, conversei com partes da família em vários pontos de São Paulo e Rio de Janeiro. Agradeci por termos essa oportunidade de nos ver, falar e saber que estamos bem. Rezo para continuar assim. Mas logo que a videoconferência terminou me veio uma dor muito grande de saber que mesmo com toda a tecnologia eu não posso abraçar e beijar os meus queridos familiares e amigos. Não neste momento. E depois pensei em todos os que estão perdendo pessoas amadas e que não estão sequer podendo se despedir deles.

Sei que tudo vai passar e rezo para que passe logo, mas não sei se quero estar aqui para contar os despojos. O Corona Vírus será morto, mas esse ódio sem razão, será?



2 comentários:

  1. Se não aprendermos agora, não sei quando isso acontecerá. Paz e acalanto para todos.

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    1. Tivemos guerras mundiais, a espada da guerra fria querendo explodir o mundo, e várias pestes ao longo do percurso humano. Nada mesmo parece amolecer esses corações

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