A única receita de hoje é de caos
Gosto de uma infinidade de coisas no Natal. Das reuniões da
família que hoje estão mais na minha memória que na realidade, dos amigos
visitando uns aos outros só para desejar tudo de bom.
Vejam bem: nasci em tempos mais simples, e presentes de
Natal não eram tão obrigatórios assim. Mas o tempo passou e a coisa foi indo
num crescendo, até que a figura do Jesus menino nascido em uma pobre manjedoura
(ou caverna de acordo com algumas versões) foi diminuindo e as figuras pagãs
como o Papai Noel foram crescendo. E nós fizemos isso acontecer.
Hoje acho insuportável até mesmo a ideia de sair para
comprar um presente. As ruas estão entupidas. As lojas cheias. Até o ato de
sair para tomar um drinque fica impossível, porque os bares estão cheios de
gente gritando loucamente, como se a felicidade precisasse ser expressa em 200
decibéis.
Desculpem... Estou de mau-humor por conta do calor senegalês
que anda fazendo e só a ideia de me enfiar em qualquer lugar barulhento e
quente me deixa louca. Aí, acompanhando
um anúncio besta, resolvo olhar os preços na internet. E fico mais louca.
Como é que alguém pode colocar um preço em alguma coisa besta,
tipo um celular, que corresponde a uns cinco salários mínimos do país e alguém
achar isso normal? Ou pagar pela comida de casa com cartão de crédito porque o
13º (quem ainda tem isso) já está comprometido com outras coisas?
Odeio essa sanha consumista de final de ano, porque me lembra
do quanto estamos ferrados.
Olha... Longe de mim em querer que todo mundo esqueça os
presentes, os amigos secretos, as ceias fartas e tudo o mais. Mas realmente
acredito que está na hora da gente baixar um pouco a bola e lembrar que essa
data (que nem é mesmo o nascimento do Salvador) é para nos lembrarmos de que
esse é o tempo da misericórdia; do amor ao próximo; do respeito e da alegria
que representa o nascimento de Jesus.
Não vou tão longe quanto o padre da missa de ontem, que
chamou Papai Noel de abominável, mas já está na hora de lembrarmos o que
realmente importa. Este ano vou pensar nas pessoas que perdi, vou pensar nas
saudades que tenho de um mundo de coisas. E não darei nem uma agulha para ninguém
porque não to podendo.
Vou pedir a Deus (e a Papai Noel), que nos dê trabalho e
renda. E pedir muito, mas muito mesmo, que encontremos a paz.
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