Plante uma horta, use tudo dos alimentos e não descarte nada!
Estou desde domingo pensando sobre esse assunto do desperdício depois de assistir a um documentário chamado “Wasted, com Anthony Bourdain”. Para quem não sabe, ‘wasted’ significa perdido, desperdiçado, descartado como se fosse lixo. E eu confesso que comecei a ver o documentário por causa do Bourdain, porque era fã dele enquanto era vivo. Mesmo que ele tenha dado cabo da própria vida, era uma das pessoas mais lúcidas do mundo, talvez por isso não havia fingimento quando ele se via diante da dor humana e da desgraça do mundo.
No meio desse texto eu vou destacar alguns números e dados
tirados desse filme, realizado em 2017, e outros mais atualizados, porque são
números assustadores e coloca a espécie humana entre as coisas mais abomináveis
que existem no universo, pois, mesmo com tantos recursos, desperdiça, descarta,
e trata como lixo tudo, inclusive outros humanos.
Cerca de 10% das emissões de gases de efeito estufa
dos países desenvolvidos são derivadas da ingestão de alimentos nunca
consumidos, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
Como inimiga do desperdício, aprendi muita coisa com esse documentário.
Como utilizar restos alimentares para ajudar na ração animal. Vários exemplos
de larga escala são mostrados ali, como alimentar os suínos com leite e outras
sobras (sem chiqueiros!), que além de evitar lixo orgânico nos aterros
sanitários e águas, deixou a carne desses animais com uma qualidade excepcional
para o consumo.
O Brasil joga 41 mil toneladas de alimentos fora todos os dias enquanto uma em cada nove pessoas passa fome. (dados do WFP – Programa Mundial de Alimentos)
No documentário, um destaque: 40% de todos os alimentos
produzidos nos EUA vão parar no lixo. Seja durante a colheita, transporte,
comercialização e no final da cadeia de suprimentos. E isso diz respeito a apenas
uma nação. Antes de mostrar os números brasileiros, quero que vocês pensem
sobre isso: na hora da colheita há perdas; durante o transporte há perdas e
sim, feiras livres, mercados e você jogam no lixo toneladas de comida. No
mundo, cerca de 1,3 bilhão de toneladas de comida são descartadas
por ano e neste momento, milhões de pessoas não têm o que comer.
Plantar de forma orgânica é possível? Sim é. E aconselho a
todos os leitores que deem uma olhada nesse documentário, produzido pelo
National Geographic, que aponta inúmeras maneiras de utilizar ao máximo os
alimentos, seja nas mesas das pessoas, como compostagem para fertilização,
alimentação animal, geração de biocombustível e um sem número de outras
finalidades.
Então, chegamos à pergunta: porque desperdiçamos tanto?
Porque alguém disse que isso ou aquilo não é gostoso? Não... Eu odeio bacalhau,
então eu nem compro para comer. Aliás, uma regra que deveria var é a seguinte: NÃO
PONHA NO SEU PRATO SE VOCÊ NÃO VAI COMER! Ah!! E se você não gosta, não fique
fazendo a cabeça das pessoas de que isso ou aquilo faz mal. Apenas admita que
não gosta e pronto! Mas não jogue comida no lixo, por favor.
Atualmente habitada por 7,6 bilhões de habitantes, a Terra
abrigará 8,6 bilhões em 2030, 9,8 bilhões em 2050 e 11,2 bilhões em 2100,
segundo estimativas do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações
Unidas, o que acarretará um aumento de 60% na produção de alimentos até 2050 para
suprir a demanda, o que vai pressionar mais ainda nosso ambiente. Poderíamos
fazer um esforço para desperdiçar menos.
O ciclo do desperdício e não a cultura orgânica pode ter
jogado milhões na fome. No Brasil, mais de 30% de tudo o que é produzido não é
consumido. E as proporções de perdas em cada processo são:
10% dos alimentos são perdidos nos processos de produção e
colheita;
50% dos alimentos são perdidos no transporte, manuseio e
armazenamento;
30% dos alimentos desperdiçados são perdidos na
distribuição;
10% dos alimentos são perdidos nos supermercados e na casa
dos consumidores, tendo como principal fator a validade dos produtos.
Enquanto toneladas de alimentos são desperdiçadas, a fome atinge 5,2 milhões de pessoas no Brasil.
Como solucionar esse problema? Vamos começar por cultivar mais
organicamente. Sim, é possível fazer isso e ter comida suficiente se levarmos
em conta as produções locais. E também precisamos estar mais atentos aos
processos de comercialização. Nem todas as verduras, legumes e frutas são
lindos e espetaculares, só que isso não pode significar que eles não são comestíveis
e por isso devem parar no lixo.
Comprar apenas o que se precisa levando em conta a
conservação e o período em que se vai consumir é uma boa medida antes de ir às
compras. Além disso, aproveitar partes não convencionais dos alimentos é outra
saída para o desperdício. De acordo com a nutricionista, é possível aproveitar
partes importantes de frutas e verduras que possuem alto valor nutricional e
acabam no lixo, como as folhas da cenoura, que têm vitamina A e podem ser
refogadas como qualquer verdura, por exemplo.
Podemos ainda ficar de olho em mercados, restaurantes, lanchonetes
etc., que podem dar uma destinação melhor aos alimentos que sobram, e que
deveriam (poderiam?) alimentar muita gente. Certa vez alguém, de muita má
vontade, falou algo sobre alguém ser processado por distribuir as sobras de
alimentos. Mais uma vez recomendo que assistam o documentário e vejam a frase: “0%
das pessoas que distribuem alimentos que sobram em restaurantes, bares etc.
foram processadas por esse motivo”.
Sei que estou me estendendo demais, mas queria fazer as pessoas pensarem um pouco, mesmo que estejamos no meio da maior crise humanitária que este país já viu, com gente parecendo não se importar em nada com o próximo. Precisamos fazer mudanças urgentes. Precisamos deixar de ser egoístas e parar de pensar apenas nas nossas vidas sem importar o que acontece aos outros. A mudança começa em nós. O desperdício começa em nós. E deve terminar agora.
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