Ontem foi aniversário de São Paulo, e, acreditem, eu deveria ter publicado isso ontem como homenagem à minha cidade natal, mas fui atender a urgências outras.
Também queria aproveitar e escrever sobre o local de
fundação, que é o “Pateo do Colégio” dos Jesuítas, mas não queria incorrer no
erro de acreditar que não havia nada aqui antes dos portugueses chegarem. Havia
milhões de nativos nessas terras. Grandes Nações. E a chegada de outros povos,
eu poderia dizer que veio agregar, mas não estaria falando toda a verdade.
Enfim, resolvi falar de outra igreja (tem várias nos meus percursos). E é pequena, muito conhecida como São Gonçalo, mesmo que ele não seja o padroeiro principal, que está ali, atrás da Sé, na atual praça João Mendes, antigo Largo da Cadeia. Uma igreja de aparência tão simpática que é impossível passar por ela sem entrar para uma visita. Pelo menos eu nunca resisti. Adoro caminhar pelo centro velho da minha cidade e ver como andam os prédios das histórias que ouvi ou li durante a minha vida.
Se estiver andando por São Paulo, entre e se encante. Tem
vitrais lindos nas portas e no frontão; altares com santos e partes vindas de
outras igrejas, já que essa pequena paróquia sempre foi pobre e modesta.
Pedaços que restaram da primeira igreja, construída pelo primeiro santo nascido
no Brasil, Frei Galvão, e que são uma ótima mostra do barroco paulista tardio,
já beirando o rococó.
Ainda se pode ver em seu interior os pequenos balcões, onde
algum cidadão “mais ilustre” ficava quando se “arriscava” a ver a missa na
pequena capela, já que, além da humildade, estava situada bem no Largo da
Cadeia, de onde saíam alguns condenados, em carro aberto, em direção ao Largo
Forca, hoje Praça da Liberdade.
Próximo do altar mor balcões de clausura para as irmãs
concepcionistas (enclausuradas) assistirem à missa na igreja, originalmente
dedicada à Nossa Senhora da Conceição. Tudo ainda existe nessa pequena igreja.
Elementos de luz e sombra que trazem a São Paulo colonial e escravista do
século XVII, com sua arte decorativa, suas histórias muitas vezes sombrias. O quadrante
do relógio veio dos restos do Pateo do Colégio.
Dizem que a igreja de São Gonçalo (nascido na Índia) foi
construída em 1756, quando o frei Antonio da Madre de Deus Galvão financiou a
construção de uma capela dedicada à Imaculada Conceição e a São Gonçalo Garcia,
o que provocou outra confusão: muitos confundem esse Gonçalo com outro, o do
Amarante. Nada mais longe da verdade. O daqui era jesuíta e morreu em missão no
Japão.
A capela ruiu com o tempo e em 1840 foi reconstruída a igreja, com a fundação da Irmandade Nossa Senhora e São Gonçalo. A torre é de 1878. Em 1893, os cuidados passaram aos Jesuítas, que nela trabalharam promovendo as Congregações Marianas e a Catequese dos Japoneses que começavam a chegar ao Brasil e ocupar em São Paulo o bairro da Liberdade.
Neste ano de fim de obras, dois altares laterais foram
erguidos, a maior parte vindos da antiga igreja de Nossa Senhora Aparecida, em
Aparecida. Há ainda casos de outras peças originárias de outras igrejas, que
hoje encontram-se na igreja de São Gonçalo, como a pedra fundamental da antiga
igreja do Colégio dos Jesuítas, uma imagem de São João Batista e algumas
relíquias levadas para a igreja em 1901.
Quero chamar a atenção do leitor para a simplicidade da fachada
dessa igreja colonial, em meio a uma cidade que cresceu demais e que parece
quase ingênua em contraste com as altas pedras da catedral da Sé, bem à sua
frente e com as linhas verticais dos arranha-céus que por ali existem na Praça
João Mendes.
Em tempo, na arquidiocese, essa pequenina igreja, cheia de meandros e elementos, responde pelo no (oficial), de Paróquia de Nossa Senhora da Assunção e São Paulo e Matriz Paroquial Pessoal Nipo-Brasileira São Gonçalo. Aos domingos, há uma missa rezada em japonês, para lembrar que ela ainda está ali para honrar e homenagear um dos povos que formaram este país.
Abaixo um pequeno trecho sobre a “quase capela” que serviu
de base para este post. E só para constar, essa igreja foi tombada pelo CONDEPHAAT
em 1971 para impedir que a edificação fosse vendida ou mesmo demolida, e pelo
CONPRESP em 1986.
"Pequena, estreita,
terrivelmente modesta foi a primeira construção da igreja que levou o nome de
São Gonçalo, forçado pelos seus intransigentes devotos. Porque realmente a
igreja de São Gonçalo é a igreja de Nossa Senhora da Conceição, legítimo orago
do templo. A insistência dos devotos do século XVIII desafiou o tempo e a
igreja hoje é familiarmente conhecida, intimamente chamada de São Gonçalo,
quando não o deveria ser. Tal é a força da tradição, porém. O santo menos o
orago. O santo absorveu e dominou o nome do orago e a igreja de Nossa Senhora
da Conceição, com todos os requisitos canônicos, ninguém a conhece. Mas todo
mundo sabe qual é a igreja de São Gonçalo."
[ARROYO, Leonardo. Igrejas de São Paulo: introdução ao estudo dos templos mais característicos de São Paulo nas suas relações com a crônica da cidade. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954, p.216-217.]
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