Tenho pensado muito sobre a vida em abundância, até porque não é o que vemos no mundo de hoje, com um número imenso de excluídos (e contando!) bem na cara de quem QUISER ver. E coloco isso em maiúscula, porque muitos, de cima dos seus pedestais de barro, insistem em fazer de conta que isso não existe, ou que a pessoa não lutou o bastante para sair da situação, e claro, chego à conclusão de que as pessoas gostam de apontar e acusar, ao invés de estender a mão e ajudar.
Mas duas coisas me levaram a escrever esse post, e a
primeira é uma das frases icônicas de Mário Sérgio Cortella (lida no LinkedIn),
que está me deixando muito pensativa mesmo. A frase: “A vida em abundância não
é a vida do excesso, do desperdício, da perda. A vida em abundância é a vida da
suficiência”.
Tenho me debatido muito com esta questão, não apenas porque
estou em dificuldades financeiras, já que anda difícil arrumar trabalho de
verdade, mas porque vejo muitas pessoas em dificuldades piores, sem se dar
conta que precisam manter o foco nas necessidades. Aprendi ao longo do percurso
que excessos deveriam ser apenas para aquele momento que a gente precisa MUITO
agradar uma parte ferida do nosso ego idiota. Muitas vezes desperdiçamos só
para mostrar a alguém que nós PODEMOS. Mas quer saber? Não podemos.
Que direito temos de jogar no lixo comida quando tem 800 milhões
de pessoas com fome nesse século XXI? Que exibicionismo imbecil é esse? Será
que as pessoas percebem quanto soa idiota elas dizerem que pagam impostos (no
caso o de Renda), como se apenas elas pagassem impostos? É tão idiota que dá
vontade de vomitar. TODO MUNDO PAGA IMPOSTO!!! Não existe uma coisa nesta terra
de Santa Cruz que não seja taxada e sobretaxada. Pagamos até para respirar e
quase nunca temos retorno disso tudo que pagamos.
Abro aqui um aparte para dizer que um estado inteiro no país
onde nasci está sem energia após novo apagão, enquanto os governos (que são
pagos com o nosso dinheiro), fazem de conta que isso não é problema deles.
Fechado o aparte, vou falar na segunda coisa que me levou a
esse post. E esta veio do Instituto Humanitas Unisinos. É um artigo de uma das
técnicas da Embrapa, que afirma que cada família brasileira desperdiça 128
quilogramas de comida todos os anos. E essa é uma estimativa muito conservadora,
porque sei que algumas famílias desperdiçam mais. De onde foi que tiramos a
ideia de que desperdício é sinal de prosperidade ou de que alguém é mais
bem-sucedido que outro?
De onde vem essa arrogância? Porque alguém se acha poderoso
só porque pode jogar comida no lixo? Qual a necessidade de subir em um monte de
lixo e bater no peito dizendo que é dono daquele monte e que tem poder sobre
ele?
Sei que muitos dirão: “mas é só no Brasil”? E eu vou
responder: NÃO!! A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura (FAO) divulgou que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são
perdidos no planeta a cada ano, cerca de 30% do total produzido. E isso
realmente me enlouquece. Precisamos voltar a nos tornar humanos e pensar que o
que jogamos fora poderia alimentar uma pessoa por um bom tempo.
Porque não falei de todo mundo antes de falar no Brasil?
Porque não posso consertar o mundo todo e nem o Brasil, mas gostaria que
conseguisse fazer o meu leitor ver esse problema, se conscientizar e tentar
mudar a atitude. Queria que um só visse que pessoas são mais importantes do que
coisas, que todos somos mortais, que todos podemos (espero que não!) passar por
essas necessidades; que ter uma roupa cara ou um celular da moda não nos fazem
melhores do que ninguém. Que precisamos parar de nos exibir quando conquistamos
algo que para nós, e apenas para nós, vale alguma coisa. Nós somos todos comida
de bicho, e eles (os bichos), não desperdiçam.
Ainda com dados da Embrapa e do Instituto Humanitas
Unisinos, quero compartilhar a informação: “No Brasil, 2,5% da população passou
fome em 2017. Isso corresponde a 5,2 milhões de pessoas. E vale lembrar que o
Brasil só saiu do mapa da fome em 2014, quando o índice de pessoas ingerindo
menos calorias que o recomendado caiu para 3% da população”. Quero informar aos
desperdiçadores de plantão que nós voltamos ao mapa da fome e por nossa própria
culpa. Não apenas porque jogamos comida fora, mas porque não ligamos para o que
acontece à nossa volta.
E assim, não ligamos para quem não tem o que comer, onde
morar, onde trabalhar, como se tratar, estudar... Sim! Tudo isso importa!
Porque tudo isso é direito inalienável e, mais que isso, a garantia desses
direitos pode nos tirar dos mapas onde a maioria excluída é jogada em uma
marginalidade que poderia ser muito menos atraente.
Falando em desperdício, vocês sabiam que a Lei Orçamentária
Anual autorizou o montante de R$ 1,28 bilhão para custear o processo eleitoral
de 2020? E que desse total, cerca de R$ 647 milhões serão investidos na
realização das Eleições Municipais de 2020?
E isso são apenas os gastos do Tribunal Eleitoral. Em verbas
de campanha, que é aquilo que os partidos usam para fazer sua propaganda
eleitoral, são R$ 2 bilhões. Isso não está sendo investido para melhorar a
saúde, a educação, a segurança, e nem para colocar comida nas mesas das
pessoas. É para a gente eleger um cidadão que vai receber pagamento por
serviços nem sempre prestados que também saem dos nossos impostos.
Vocês percebem onde quero chegar? Não quero dizer que não
devemos ter eleições, porque a democracia é um sistema caro de sustentar, mas
estamos muito perto de ter uma rainha louca gritando para comermos bolos já que
não podemos mais comprar pão.
Precisamos muito mesmo descobrir que uma vida em abundância
é aquela na qual a maioria absoluta participa. Se não for assim, não existe
progresso, nem vida em abundância para mais ninguém, porque o círculo dos que
ainda possuem privilégios está ficando menor a cada dia, mesmo que alguns tolos
acreditem que, por andarem na moda, ou terem alguns bibelôs mais bonitos
estarão a salvo.
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