terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Santa Filomena uma capela com histórias

Hoje o dia me pegou fragilizada, com a situação do país, e com a situação pessoal também. Hoje seria aniversário de um amigo, jornalista e historiador, o Fábio da Silva Gomes, tirado de nós cedo demais. Resolvi escolher o dia para falar dessa capela, quase em frente do prédio onde morei, na Marechal Deodoro, em São Bernardo do Campo.

Essa capela, que eu via da janela do meu quarto, e que me serviu de refúgio quando perdi meus pais e minha irmã mais velha. Ainda corro para lá quando preciso acalmar o coração, mas não durante essa pandemia, é claro, já que há restrições.

Porque resolvi falar disso e homenagear o Fábio ao mesmo tempo? Por conta de algumas coisas que vejo em grupos de “registros históricos”, nos quais só se fala coisas do tipo: “esse prédio é tão bonito”; “pena que este país não preserva”; “porque as pessoas não se vestem mais assim?”. Enfim, pessoas que olham fotos do passado e acham que o mundo pode andar para trás. Não pode, porque a história se refere ao passado, mas não são os prédios que são históricos, mas as pessoas que os construíram.


O que eu sei da Capela de Santa Filomena aprendi com o Fábio, que a construção foi no século XIX, com a chegada dos primeiros imigrantes italianos a São Bernardo, que trouxeram o culto a Santa Filomena. Sei que a primeira construção, de 1881, era em pau-a-pique. E a rua Marechal Deodoro, na época, era a “Estrada Geral de Santos”, parte do “Caminho do Mar”, e que essa capela foi doada ao Apostolado da Oração da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem em 1903.

O Fábio escreveu livros sobre essas pessoas, a maioria imigrantes, que construíram suas vidas em São Bernardo do Campo, não apenas prédios, capelas, igrejas. Quem é da cidade sabe que subindo a marechal ainda temos a capela da Boa Viagem, em frente à matriz, um marco da fundação.

Voltando a Santa Filomena, o pau-a-pique original foi substituído na década de 1950 por material mais resistente, mas conservou sua fachada de aspecto simples e colonial. No interior recebeu um novo piso e o altar de São José, vindo da velha Matriz (demolida em 1940). Nos anos 1980, nova reforma restaurou os desgastes e algumas imagens de santos.


Em agosto de 1999 um incêndio quase destruiu totalmente a capela, que, recuperada, foi reaberta no ano seguinte. Nas imagens é possível ver que o aspecto externo preserva os traços da igreja original, mas a praça, infelizmente, perdeu a maior parte de sua cobertura vegetal e algumas árvores foram retiradas, mas as luminárias e o chafariz ainda estão na praça.

São Bernardo não é minha cidade natal (sou de São Paulo), mas vi essa cidade desenvolver seu potencial, pois quando me mudei, ainda criança, em meados dos anos 1960, as indústrias de móveis, automóveis e outras se instalavam na região. Dizem que estamos em declínio, já que muitas dessas empresas fecharam ou foram embora da cidade. Mas, como o Fábio, ainda tenho esperança, porque empresas abrem e fecham, mas pessoas não.

Fábio Silva Gomes, sua passagem nesta terra foi curta, mas você deixou uma filha, alguns livros contando as memórias e histórias das pessoas que fizeram São Bernardo e também dos prédios que elas deixaram para nós. Precisamos preservar os prédios, não porque são bonitos, mas porque eles contam a nossa história. E que Santa Filomena nos acolha e nos preserve também.

crédito fotos: Centro de Memória de São Bernardo; Rita Palladino

2 comentários:

  1. Prezada Rita Palladino: Gostei muito do seu texto e fiquei triste também com o falecimento do Fábio Silva Gomes há algum tempo embora não o tenha conhecido pessoalmente! A capelinha de Santa Filomena também é de grata lembrança para mim pois nasci na rua Municipal número 13 no dia 13 de junho de 1943 e eu a via todos os dias no período em que estudei quando menino no antigo Ginásio João Ramalho, Parabéns pelo seu texto você escreve muito bem! Boa noite!

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    1. Mestre Chang, obrigada por suas palavras gentis. Estudamos em um mesmo prédio, já que fui aluna do Wallace (que substituiu o João Ramalho), no prédio que tinha nos fundos (ou frente), o antigo mercado municipal.

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