Hoje levantei disposta a escrever sobre amor, mesmo que
tenha pela frente um sábado com vizinhos que falam a 200 decibéis e ouçam o
pior tipo de música (posso chamar essa tranqueira de duas notas de música?) do
universo. Parece que estou dentro da saga do Mochileiro das galáxias ouvindo
poesia Vogon. E não. A solução do problema não é 42.
Precisava escrever algo para o blog, mas tudo me parecia
fútil diante das notícias. Uma criança morreu em um hospital, de uma doença que
já deveria estar erradicada, pois há vacina para ela. O primeiro problema? É
neto de um ex-presidente da República que está preso. Isso já é um problema por si só e uma
tragédia.
Mas não para por aí. Perfis diversos das redes sociais se
inflamaram ante a notícia e foi um festival de horrores, de gente comemorando a
morte de uma criança, de gente “achando” um absurdo que o presidente tivesse
licença para enterrar o próprio neto. Eu realmente acredito que temos uma nação
de gente muito doente, que ri de tragédias; que culpa vítimas; que vê um crime
ser cometido e não se move.
É o cara que vê o linchamento ou o estupro e ao invés de
usar o celular para chamar a polícia, usa para filmar a cena e postar nas redes
sociais. Como chamar isso? Eu chamo de canalhice da pior espécie.
Mas isso foi só a gota d’água. Esta semana o desfile de
barbaridades deixaria muito cronista com assunto para fazer uma tese. Esta
semana revivi algumas coisas da ditadura militar que eu e milhões de
brasileiros engolimos quando um ministro muito imbecil manda uma nota para ser
lida nas escolas enquanto crianças são filmadas cantando o hino nacional.
Muitos professores que conheço resolveram filmar suas salas
de aula, sendo inundadas pelas chuvas que caíam torrencialmente; com carteiras
e mesas quebradas; sem cadernos e livros; com crianças de pé no chão porque não
têm sapatos. E causaram um surto em certo ministro, porque o site do ministério
não tinha capacidade de recepção para tantos gigabytes...
Poderia ser uma piada, mas isso também é trágico, porque
vejo ano após ano, governo após governo (em todas as esferas) ignorar o apelo
de pais e professores por escolas melhores, por valorização do ensino. Mas o
que vemos é um sucateamento dos equipamentos construídos com os nossos impostos
e uma desvalorização total de tudo o que signifique CONHECIMENTO.
Criamos uma nação de imbecis que nem percebe que está sendo
roubada da pior maneira possível, porque não consegue usar o cérebro para ver o
que está sendo esfregado na sua cara. Temos um governo que vai se esforçar
muito para deixar tudo pior que já está.
As escolas sucateadas? São culpa de anos a fio de desgoverno
total. E não se limitam a 13 ou 14 anos meus caros. Isso é ter falta de memória
e de vergonha na cara para dizer o mínimo. Vou falar um pouco do estado onde eu
vivo, São Paulo, a “locomotiva da nação”, governada desde tempos imemoriais
pelo PSDB, que até começou bem, mas desceu a ladeira e não parou mais de fazer
bobagens.
São obras superfaturadas intermináveis ou jamais iniciadas.
Escolas sendo fechadas. Professores ganhando cada vez menos e sendo
massacrados, seja na hora de lutar pelos próprios direitos, seja na hora de
fazer das tripas coração e tentar ensinar algo às nossas crianças.
Nos tempos da ditadura, que existiram sim senhores e
senhoras, cantávamos o hino antes de ir para as salas de aula, que já estavam
bem sucateadas, em escolas que estavam pouco melhores que as de agora (não eram
de lata, pelo menos), com uniformes comprados a custo por nossos pais ou
conseguidos nas associações de pais e mestres, assim como nossos caderninhos
brochura e o que mais viesse.
Nada de grife. Nada da Disney. Nada tecnológico.
A coisa caiu muito e é culpa nossa. Porque passamos a dar
importância ao supérfluo e esquecemos o essencial. E nem vou falar que a
violência de agora é maior que a de antes, apenas os meios de comunicação se
tornaram mais rápidos para divulgá-la.
Portanto, não quero saber se o perfil que destilou ódio é
falso ou verdadeiro. Uma pessoa muito má fez aquilo. Pessoas que não pensam em
mais ninguém deixam escolas destruídas e ainda querem “professores e alunos
motivados”. Uma criança morreu de uma doença para a qual existe vacina. E
idiotas questionam se um avô pode ou não enterrar o próprio neto.
Como eu disse no título, a bestialidade me deixa muda, mas
não trava meu cérebro. A bestialidade que vejo nas redes sociais, e ao redor de
mim, não me tiram a habilidade de escrever, porque a bestialidade não entende
que escrever é um ato de amor. Se com isso eu conseguir que uma só pessoa
acorde para a vida, que seja. Eu venci.
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