quinta-feira, 28 de março de 2019

A folha em branco da raiva



Todos os dias me sento em frente a esse computador e faço aquilo que preciso fazer para continuar respirando: eu escrevo. E, acreditem (!), eu sei que o paralelo da folha em branco é mais velho do que andar para frente.

Eu tenho um blog, e se você está lendo este texto é porque entrou aqui, e sei que muitos entram para ver uma receita, ler alguma dica ou compartilhar algo, ou desabafar. Eu faço isso às vezes, já que isso é um blog e, tecnicamente é o que se faz em blogs.

E farei isso hoje, já que estou com muita raiva mesmo. Não estou triste, nem cansada, e nem querendo usar a razão. Quero a raiva pura de quem vê as notícias e não acredita que as pessoas engulam tanta coisa sem reagir. Estou com raiva de ser chamada de feminazi, esquerdopata, e sei lá mais o que. Na verdade não estou ofendida, porque quem me chama assim tem argumentos tão estúpidos que nem valem a pena.

Como posso levar em consideração a opinião de gente que passa em frente a um incêndio em uma favela e ao invés de tentar ajudar faz buzinaço e xinga como se qualquer ser humano merecesse aquele fim? Gente que vê um morador de rua e diz que está assim porque não quer “pagar impostos”?
 
Como levar a sério gente que vê todas as desgraças mundo afora, mas não vê a desgraça acontecendo bem debaixo do próprio nariz? Ou que vendo todas as desgraças mundo afora, além de não ajudar em nada, ainda se acha no direito de emporcalhar quem se mexe para ajudar?

Como considerar a opinião de quem diz que a “esquerda” inventou a divisão de classes, gêneros, raças para dar argumentos ao “vitimismo” (sim eu li em uma rede social e denunciei)? Gente assim quer provar que a terra é plana, porque a ignorância faz parte de suas vidas.

Como não engasgar quando vejo alguém falando barbaridades sem o menor conhecimento e querendo ter razão? Gente que diz que se alguém não está contente com o próprio trabalho, é só sair para outro, sem levar em consideração os mais de 13 milhões de desempregados?

Perdoem-me se desejo um país e um mundo melhor não apenas para mim, mas para o meu próximo também.

Perdoem-me se acredito que nenhum ser humano merece ser torturado ou humilhado.

Perdoem-me se eu desejo que as pessoas tenham direito à vida, a um trabalho que lhes sustente, a educação, saúde, segurança, sem discriminações de nenhuma espécie. Sempre acreditei que o nome disso era “cidadania”.

Se isso é ser esquerdopata (ou seja lá o nome que quiserem me dar), então eu sou. E com orgulho! Mas, com toda a certeza, duvido que pessoas que me chamam assim saibam o significado do que dizem, porque elas não sabem nem o significado de HUMANIDADE.

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