quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Livrai-nos dos especialistas


Podemos dar sugestões, mas nunca certezas. 


Este artigo já começa meio torto, porque desde que comecei a fazer este blog, já dei ideias, receitas, sugestões etc., mas jamais disse “isso é verdade, porque um especialista disse...”. E tenho motivos para isso, porque eu mesma não acredito em muitas coisas. Tenho fé, mas não é uma fé cega, pois questiono tudo o tempo todo e isso faz parte da minha profissão.

Talvez por isso eu não consiga entender o que leva uma pessoa a acreditar em uma coisa, mas não em outra. E essas eleições deixaram isso bem claro. Não importa de onde vinha a notícia, as pessoas só acreditam naquilo que querem. Não faço ideia de porque isso acontece. Assim como não entendo porque alguém melhorar de vida, saindo de uma situação difícil e conseguindo algo melhor incomoda tanto algumas pessoas.

Vejo pessoas falando mal de feriados que deveríamos comemorar muito mais com um rancor contra o qual eu não consigo lutar, porque é irracional. Não há como lutar contra o irracional, porque é violento e não há resposta para a violência. Aí vêm os espertalhões que criam teorias estapafúrdias para “justificar” aquilo, e a situação só piora.

Vou dar alguns exemplos disso que estou falando, na esperança de ser compreendida além dos meus círculos normais.

Exemplo 1 – Um colega fala de uma moça que conhece e a chama de “feministazinha”, porque ela abandonou o marido. Independente dos motivos para a moça fazer isso, queria entender o que o movimento feminista, que luta por direitos iguais tem a ver com o ato dela. O duro foi tentar explicar isso para um cara que ainda acha que feminismo é antônimo de machismo.

Exemplo 2 – Faço caminhadas todos os dias. Além de me fazer bem à saúde, me faz espairecer da minha vida não muito boa. Mas, desde o dia em que comecei a fazer caminhadas, sempre tem algum “especialista” para me dizer o que eu devo comer, vestir, calçar etc. É um tal de “você tem que chupar limão”; “seu tênis é muito barato”; “você tem que caminhar no sol do meio dia”; “esse fone de ouvido não tira seu equilíbrio?”. Ainda bem que eu tenho um cérebro funcional na minha caixa craniana, porque se eu fosse dar ouvidos a todo mundo, estaria louca.

Exemplo 3 – Uma pessoa que conheço há anos me pergunta algo do tipo: “porque dia da consciência negra? Tem dia da consciência branca?” E eu me mato para explicar a ela o porquê do tal dia, incluindo todo o lance de escravidão, luta pela liberdade e por direitos iguais, simbolizado por Zumbi dos Palmares. E a pessoa ainda, não se dando por achada fala: “mas foi há tanto tempo, para que um feriado?”. E me armo de paciência explicando que todo feriado é para comemorar algo que aconteceu há muito tempo. Nem preciso dizer que a tal pessoa ficou com uma tromba enorme, porque estamos em um mundo em que mais importante do que ter consciência e noção de certo e errado, precisamos ter razão e ganhar a discussão.

Tirando o segundo exemplo, os outros dois são uma amostra do que temos visto todos os dias. Gente abestalhada que acredita estar coberta de razão quando dá uma opinião sobre qualquer assunto sem ter o menor conhecimento de causa.

E quando você debate com uma dessas pessoas, a resposta é sempre algo do tipo: “eu acho isso e pronto!” E essa resposta idiota é o argumento daqueles que não têm argumento.

Como jornalista, sempre que escrevo alguma coisa, seja no blog ou em algum trabalho, sempre (e quando digo sempre, é sempre!) vou procurar a opinião de um especialista no assunto sobre o qual eu falo. Já entrevistei milhares de pessoas: médicos, engenheiros, arquitetos, botânicos, políticos, sociólogos. Escolha e você terá algum especialista no assunto sobre o qual escrevi. Mas, mesmo assim, nunca aceitei ideias definitivas como: “essa planta cura câncer”; porque se tudo é tão simples porque ainda não foi feito?

Não quero me estender muito mais, mas vou contar uma coisa que aconteceu hoje. Alguém compartilhou em uma mídia social um “teste” que diz se seu sono foi bom ou mal. É uma ilusão de ótica que fica mexendo enquanto você olha e diz que se estiver muito rápida você está estressado, de acordo com um “especialista”. Independente de ser uma grande bobagem, eu fiquei pensando que a pessoa que compartilhou é das mais céticas que conheço e me perguntei a troco de que ele resolveu acreditar naquilo. A resposta: “porque a gente escolhe em que acreditar”, que foi a maneira tosca de dizer “eu acho isso e pronto”.

Preciso dizer mais?

Cuidado com as pessoas que dão opiniões sobre tudo


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