Hoje vou me lembrar de coisas familiares
O leitor já deve ter desconfiado que gosto desses meses de
festas como ninguém. Talvez seja por me lembrar de coisas familiares, de quando
as coisas eram mais prosaicas. Não vou dizer que eram melhores ou piores que
agora, porque não existem parâmetros para julgar isso. Eram mais divertidas para
mim, pois me lembram da infância e situações engraçadas e pensamentos que só as
crianças têm.
Lembro de uma noite fria, jogando rouba-monte com meu irmão
(que sempre me passava a perna), e a certa altura resolvemos que faríamos
pipoca para acompanhar nossa brincadeira. É claro que não consultamos nenhum
adulto, porque éramos bem mais independentes nos anos 70... Estouramos pipoca,
salgamos e... Estava intragável de tanto sal.
Começamos a pensar o que fazer para tirar um pouco do sal e
os dois “gênios” começaram a executar ações típicas dos patetas, como peneirar
para o sal sair e ficar a pipoca; passar na água (ficou nojentamente
encharcada!); e por fim, usar a técnica mais comum quando se cozinha, colocar
batatas para elas sugarem o excesso. Mas é claro que isso só funciona para
cozimento, o que qualquer pessoa experiente saberia.
Obviamente não comemos a tal pipoca, e para quem perguntar por
que não estouramos mais, saibam que essas coisas não eram muito comuns e milho
de pipoca era caro. Não tinha sobrando em casa.
Pobreza? Não sei se é...
Na verdade minha família vivia bem perto da faixa de
pobreza, mas mesmo assim, as coisas eram mais frugais, pois estudávamos em
escolas do estado, com duas mudas de uniforme para cada um e apenas um par de
sapatos para a escola e outro para passeio. Hoje olho na minha sapateira e me
parece ostentação.
Mas isso me trouxe à lembrança outra situação, que aconteceu
no final dos anos 60. Creio que em 1967, quando nos mudamos de São Paulo para
São Bernardo. Foi estranho, pois era a primeira vez que saíamos da zona de
conforto. Chegaram as festas juninas e as pessoas do bairro novo faziam uma
festa para a comunidade toda, como os vizinhos que tínhamos em São Paulo. Mas
não conhecíamos ninguém.
Novamente a genialidade “palladina” entrou em campo e
resolvemos que faríamos a nossa festa, pois era mais fácil que fazer amigos
novos, claro! Toca a juntar tudo quanto era papel de pão que tinha em casa para
recortar bandeirinhas, que seriam penduradas nos varais do quintal.
Novamente, a falta de experiência nos pegou. Ninguém avisou
aos gênios que é preciso ter certa dose coordenação motora para recortar
bandeirinhas, e que precisa muito papel colorido para fazer aquilo funcionar.
Ficou tosco! E nós ficamos envergonhadamente patéticos. Até uma alma bondosa
vir ao nosso resgate e nos convidar para a brincadeira do bairro. Fizemos novos
amigos e no fim deu tudo certo, menos as nossas bandeirinhas.
E seguindo com as receitas juninas, não vou falar de pipoca,
é claro! É só colocar na panela com óleo, estourar, chacoalhar e salgar (sem
excessos!). Mas vou passar uma receita de pamonha, explicando que para fazer
essa delícia de milho, também precisa ter habilidade, ou a pamonha não ficará “o
puro creme do milho verde”.
Aliás, aonde foram parar os carros da pamonha de Piracicaba?
Pamonha da roça
Ingredientes
Oito espigas de milho verde com palha
1/2 xícara (chá) de leite
Uma colher (sopa) de manteiga
1 e 1/2 xícara (chá) de açúcar
Uma pitada de sal
Preparação
Corte a extremidade das espigas com uma faca. Limpe as
espigas e reserve as palhas maiores e melhores para embrulhar as pamonhas. Em
uma panela, leve ao fogo o leite e a manteiga até derreter. Reserve.
Com uma faca, retire os grãos de milho das espigas. Reserve
os sabugos. Bata os grãos no liquidificador até obter um creme. (coe se
necessário)
Adicione essa mistura ao leite reservado, acrescente o
açúcar, o sal e mexa bem. Passe as palhas reservadas em água fervente por
alguns segundos. Separe duas palhas para cada pamonha.
Pegue a primeira, dobre as laterais e a ponta, formando um
saquinho. Encha o saquinho com o líquido da pamonha e cubra com a outra palha,
dobrando as laterais e a ponta. Amarre as extremidades, de canto a canto, com
um barbante.
Coloque as pamonhas em uma panela com água, uma a uma, e
cubra com os sabugos reservados. Mantenha no fogo por 1 hora ou até a palha
ficar bem amarelada.
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