Como conciliar o trabalho e a família
Há muitos anos, eu escrevia dois artigos semanais para uma
revista conhecida sobre “gerenciamento de tempo”. Este blog, mais alguns dos
meus entrevistados, está me fazendo revisitar esse período; rever conceitos
etc.
O artigo em questão (que levava o subtítulo acima) falava de como as mulheres estavam cada
vez mais inseridas no mercado de trabalho, com mulheres se desdobrando para
conciliar o trabalho e os cuidados com a casa e a família.
A questão não abordada naquela época, é que não há uma
escolha. Não há uma vida ideal como nos seriados de TV dos anos 50/60. A mulher
continua se desdobrando, e pelos motivos mais diversos.
Não há emprego que remunere o suficiente para que um dos
pais cuide só da família. Muitas mulheres estão cuidando sozinhas de suas
famílias, que não foram criadas sozinhas, mas estão sendo levadas adiante só
pela parte feminina, criando filhos órfãos de pais vivos.
Estamos na segunda década do século XXI ainda pensando se
mulheres podem isso ou aquilo.
‘Empoderamento’, uma das palavras da moda, leva
em conta apenas aquelas que tiveram a sorte de sair de um círculo vícios, no qual
todos os deveres são de alguns e todos os direitos são de outros. Tente
empoderar uma mulher que cria quatro ou cinco filhos, sozinha (!), tendo que
trabalhar pelo próprio sustento e ainda tendo que cuidar se as crianças estão
na escola ou na creche.
Eu poderia dizer que essa é uma questão tão ultrapassada!
Mas não. É isso que se vê todo santo dia. E, não sendo o bastante, ainda se
ouve dos donos da verdade frases do tipo: “quem mandou ter filho”? Isso para
não baixar o nível e falar as frases reais.
No meu artigo original eu e um especialista dizíamos que a
mulher em questão deveria ver como a organização para a qual ela trabalhava
lidavam com mães profissionais. O tempo passou e vejo que a maioria das
organizações não está nem aí para a questão. Desde que sua vida não prejudique
o seu trabalho, pouco importa como você vai equilibrar o restante.
A verdade é que muito poucas são as corporações que se
preocupam com as famílias, mesmo que isso conste na “visão corporativa”
anunciada aos quatro ventos nas redes sociais.
Não vou me estender muito mais, porque o momento, pelo menos
no Brasil, é saber se ainda teremos emprego, com direitos batalhados por muitos
antes de nós. Sim, porque os direitos que temos não foram dados de graça. Cada
um deles foi conquistado com sangue, suor e lágrimas, mesmo que alguns mais
jovens achem que isso é coisa do passado.
Bem. O que deveria ser coisa do passado é ter, ainda hoje,
gente que não consegue se capacitar porque direitos conquistados não são
necessariamente distribuídos de forma igualitária. Tecnicamente, todos têm
direito de ter trabalho decente; que nos remunere de acordo; que nos dê tempo e
condições de compartilhar momentos em família. Mas o que vemos não é bem isso.
Se alguém discorda, tem todo o direito de contestar, mas use
uma base real para fazer isso e não ofensas. De preferência olhe em volta para
ver se as pessoas têm mesmo os direitos que lhe são assegurados.
Em tempo, a grande maioria das mulheres ainda exerce funções
em casa e no trabalho sem ajuda de ninguém, mesmo que metade da
responsabilidade de fazer aquela família seja de outra pessoa.
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