Como fazer uma horta comunitária
Em uma semana na qual vi meu bairro mais sujo e sem verde do
que jamais vi; numa semana em que vi uma grande corporação querer barrar a
venda de sementes por pequenos agricultores; em que vi que ao invés de
misericórdia, a raiva cresce nas pessoas, nada mais importa a anão ser tentar
passar aquilo que aprendi e que pode mudar o mundo, mas de forma local.
O mundo não muda de cima para baixo. Como uma casa, ele precisa que a base esteja bem alicerçada.
Já falei várias vezes sobre hortas comunitárias, e a
popularidade delas cresce a cada dia. Para quem quer iniciar um desses projetos
em seu bairro ou cidade, mas ainda não sabe como começar, vou passar um passo a
passo para transformar a vontade de plantar e colher em realidade.
◊ Passo número 1: Comece a falar sobre uma horta
comunitária. Antes de plantar a semente, plante a ideia. Converse com pessoas
de sua comunidade e fale sobre os benefícios e todas as vantagens que uma horta
comunitária pode trazer. Deixe que eles percebam a sua vontade em fazer
acontecer e sejam contagiados por isso.
◊ O próximo passo é encontrar um espaço ideal. Dizem que
nas grandes cidades as áreas livres estão cada vez mais escassas. Mas isso não
é totalmente verdade. Aqui em Diadema, já vi hortas que nasceram sob as torres
de alta tensão; em terrenos baldios; em espaços degradados ao lado de grandes
empresas. É possível! O terreno tem que ser ensolarado. O solo não precisa ser
perfeito, pois ele pode ser substituído por terra nova sem a necessidade de
grandes alterações ou investimentos.
◊ Pesquise se existe algum tipo de subsídio na sua região.
Algumas prefeituras cedem sementes, ferramentas e até instrutores para
ensinarem as primeiras técnicas. Existem também ONGs e coletivos que ajudam os
novos agricultores. Pesquise e aproveite os benefícios que essas trocas podem
gerar.
◊ Inicie um sistema de compostagem. Umas latas com um pouco
de terra, onde sejam jogados restos orgânicos, como cascas de cebola e de
frutas. Não deixe de cobrir bem esses locais pois o cheiro de uma composteira é
de decomposição. Entretanto o adubo produzido por este sistema é usado na
plantação e substitui os fertilizantes industriais. Os próprios
participantes podem fazer uma composteira, mas, não se esqueçam de sempre
trabalhar com luvas para manusear o adubo orgânico.
◊ Designe canteiros para cada família ou pessoa
participante. Quando cada um é responsável por seu canteiro a horta flui
melhor. As sementes, entretanto, devem estar disponíveis para todos os
participantes e estes devem ter liberdade de escolher o que será plantado no
seu espaço. Além disso, é legal incentivar os participantes a criarem suas
próprias mudas para que possam trocar uns com os outros e ter mais variedade no
plantio.
◊ Cerquem o terreno. A questão não é impedir que a comunidade
entre na horta, mas uma saída para evitar a entrada de animais domésticos no
local de plantio, evitando estragos no solo.
◊ Criem regras. Em hortas comunitárias é preciso planejamento.
Escalas que determinam dias e horários dos responsáveis pela rega das plantas,
por exemplo, é algo essencial. Isso evita que o local receba água de mais ou de
menos. Mutirões de plantio e limpeza também são sempre bem-vindos. Ah! E
procure uma tabela de datas para o plantio. É bom que todos saibam o que e
quando plantar.
◊ Manter e melhorar a horta são os próximos passos. Se for
necessário, criem um conselho com pessoas aptas e dispostas a solucionar
atritos, receber sugestões e criar novas soluções para elevar a qualidade da
horta urbana. Receber bons conselhos e trocar experiências é essencial para
manter o grupo unido e melhorar o plantio. Se for possível, convidem
palestrantes para dar conselhos e incentivar a comunidade.
Depois dessas sugestões, que, espero (!), lancem sementes
para muitas novas hortas espalhadas pelo país, desejo dar uma última sugestão:
façam uma festa da colheita e convidem as suas comunidades. Não apenas os
participantes da horta. Mostrem no seu bairro, ou vila, o quanto é saudável
plantar e colher os próprios alimentos, e quanto bem aquele “pedaço de verde”
trouxe para a sua região. Quem sabe isso não se torna a raiz de muitas hortas
comunitárias!
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