Estava aqui pensando sobre o que escrever no blog hoje, e
fui literalmente inundada por postagens sobre os cortes públicos em educação e
desenvolvimento científico, o que me deixou mais para baixo que umbigo de
cobra.
Este país está indo cada vez mais esgoto abaixo, porque vejo
dívidas de bilhões sendo “perdoadas” a bancos e empresas multimilionárias, enquanto se cortam direitos de quem já nasceu
sem nenhum. E no caso da educação, vejo uma coisa ser tratada como despesa
quando deveria ser tida como investimento. Afinal, gente que sabe ler,
escrever, fazer contas é que constrói um país.
Podemos pensar na tática de “povo que não pensa, não
incomoda”, mas gostaria de lembrar aos leitores que as grandes revoltas vieram
de pessoas iletradas. Mesmo que tenha sido infinitamente discutida em saraus
filosóficos.
E entre todas as coisas que leio, ouço ou vejo, as que mais
gritam são as frases “no meu tempo”, “quando a gente estudava”, era assim ou
assado. E sinto vontade de sair distribuindo sopapos. Em primeiro lugar, não
tem essa de “meu tempo”, porque ESTE é o meu tempo. Ainda estou viva e
chutando. Em segundo lugar, não sei vocês, mas eu ainda estudo. Pode não ser em
um banco escolar, mas se eu começar a crer que já sei tudo podem me matar,
porque a vida perdeu o sentido.
Vejo pessoas falando que os alunos não querem mais aprender,
mas na verdade essas pessoas falam delas mesmas, preguiçosas em pegar um livro
pra ler, ou ensinar alguma coisa útil para seus filhos. Me pergunto qual a
motivação de um professor em se acabar no trabalho, já que “ninguém quer
aprender”. Aliás, se algum professor ou professora estiver me lendo, me perdoem pelas vezes em que fui um pé no saco! Porque isso de "no meu tempo" é uma balela. Sempre teve aluno folgado!
Nessa hora lembro-me da minha mãe, descendente de italianos,
que estudou em escolas públicas da zona Leste de São Paulo, como o Amadeu Amaral
e depois a Escola Normal Padre Anchieta, onde minha tia Rosa também estudou e
se formou com louvor. Outros tios e primos passaram pelas carteiras do Amadeu
Amaral e pelo menos o segundo grau foi alcançado.
Assim como minha mãe, a tia também não seguiu carreira de
professora, mas o estudo não apenas levou ambas a lugares melhores
profissionalmente, como ajudou na hora de educar os próprios filhos. Minha mãe
era mais rígida com minhas tarefas de escola que muito professor malvado.
Este era para ser um artigo para lembrar a Escola Normal
Padre Anchieta, uma das primeiras do estado de São Paulo, mas vai virar um
artigo para protestar contra todos os “cortes” em nome de uma economia que
deveria ser feita em outra parte.
Vou pedir de novo aos que me leem para pensar muito antes de
votar em alguém que corta verbas de educação; que fecha uma escola pública; que
acaba com uma biblioteca; que cria impostos absurdos sobre livros, remédios,
comida, mas que não dá em contrapartida nada que já não seja direito de
nascença.
Quando minha mãe era normalista, as escolas públicas eram
raras, e nos dias de hoje, estão ficando raras de novo. Pergunto aos amigos dos
grupos de fotos antigas e coisas do passado: é disso que vocês têm saudades?
Tenho certeza de que não. Então vamos lutar para trazer de volta algo mais do
que fotos amareladas. Vamos trazer de volta o ensino universal, a educação que
os filhos tinham em casa, o aprendizado de bons hábitos.
E por favor! Isso vai além de saber cantar hino, sentar
composto na carteira escolar e tratar bem aos outros. Mas seus filhos e netos
só terão esses direitos se não ficarmos parados enquanto desmontam tudo o que
foi construído.
Em tempo: A
Escola Normal Padre Anchieta foi instalada em 31 de março de 1913 com o nome
Escola Normal do Brás e que funcionou como Escola Normal Primária, até 1920.
Era a segunda escola de São Paulo.
A partir dessa data, passou a ser do mesmo tipo de todas as Escolas Normais do Estado, isto é, possuindo anexos, o Grupo Escolar Modelo e a Escola Complementar, e como as outras, com um curso regular de quatro anos.
A Escola Normal funcionou, a princípio, num casarão na Avenida Rangel Pestana, 419. Depois, a Padre Anchieta foi instalada em um prédio quase centenário, que hoje abriga a Oficina Cultural Amacio Mazzaropi, na av. Rangel Pestana 2401, e foi onde minha mãe (foto) e minha tia estudaram.
A partir dessa data, passou a ser do mesmo tipo de todas as Escolas Normais do Estado, isto é, possuindo anexos, o Grupo Escolar Modelo e a Escola Complementar, e como as outras, com um curso regular de quatro anos.
A Escola Normal funcionou, a princípio, num casarão na Avenida Rangel Pestana, 419. Depois, a Padre Anchieta foi instalada em um prédio quase centenário, que hoje abriga a Oficina Cultural Amacio Mazzaropi, na av. Rangel Pestana 2401, e foi onde minha mãe (foto) e minha tia estudaram.
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