segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Escola: templo do saber


Estava aqui pensando sobre o que escrever no blog hoje, e fui literalmente inundada por postagens sobre os cortes públicos em educação e desenvolvimento científico, o que me deixou mais para baixo que umbigo de cobra.

Este país está indo cada vez mais esgoto abaixo, porque vejo dívidas de bilhões sendo “perdoadas” a bancos e empresas multimilionárias, enquanto se cortam direitos de quem já nasceu sem nenhum. E no caso da educação, vejo uma coisa ser tratada como despesa quando deveria ser tida como investimento. Afinal, gente que sabe ler, escrever, fazer contas é que constrói um país.

Podemos pensar na tática de “povo que não pensa, não incomoda”, mas gostaria de lembrar aos leitores que as grandes revoltas vieram de pessoas iletradas. Mesmo que tenha sido infinitamente discutida em saraus filosóficos.

E entre todas as coisas que leio, ouço ou vejo, as que mais gritam são as frases “no meu tempo”, “quando a gente estudava”, era assim ou assado. E sinto vontade de sair distribuindo sopapos. Em primeiro lugar, não tem essa de “meu tempo”, porque ESTE é o meu tempo. Ainda estou viva e chutando. Em segundo lugar, não sei vocês, mas eu ainda estudo. Pode não ser em um banco escolar, mas se eu começar a crer que já sei tudo podem me matar, porque a vida perdeu o sentido.

Vejo pessoas falando que os alunos não querem mais aprender, mas na verdade essas pessoas falam delas mesmas, preguiçosas em pegar um livro pra ler, ou ensinar alguma coisa útil para seus filhos. Me pergunto qual a motivação de um professor em se acabar no trabalho, já que “ninguém quer aprender”. Aliás, se algum professor ou professora estiver me lendo, me perdoem pelas vezes em que fui um pé no saco! Porque isso de "no meu tempo" é uma balela. Sempre teve aluno folgado!

Nessa hora lembro-me da minha mãe, descendente de italianos, que estudou em escolas públicas da zona Leste de São Paulo, como o Amadeu Amaral e depois a Escola Normal Padre Anchieta, onde minha tia Rosa também estudou e se formou com louvor. Outros tios e primos passaram pelas carteiras do Amadeu Amaral e pelo menos o segundo grau foi alcançado.

Assim como minha mãe, a tia também não seguiu carreira de professora, mas o estudo não apenas levou ambas a lugares melhores profissionalmente, como ajudou na hora de educar os próprios filhos. Minha mãe era mais rígida com minhas tarefas de escola que muito professor malvado.

Este era para ser um artigo para lembrar a Escola Normal Padre Anchieta, uma das primeiras do estado de São Paulo, mas vai virar um artigo para protestar contra todos os “cortes” em nome de uma economia que deveria ser feita em outra parte.

Vou pedir de novo aos que me leem para pensar muito antes de votar em alguém que corta verbas de educação; que fecha uma escola pública; que acaba com uma biblioteca; que cria impostos absurdos sobre livros, remédios, comida, mas que não dá em contrapartida nada que já não seja direito de nascença.

Quando minha mãe era normalista, as escolas públicas eram raras, e nos dias de hoje, estão ficando raras de novo. Pergunto aos amigos dos grupos de fotos antigas e coisas do passado: é disso que vocês têm saudades? Tenho certeza de que não. Então vamos lutar para trazer de volta algo mais do que fotos amareladas. Vamos trazer de volta o ensino universal, a educação que os filhos tinham em casa, o aprendizado de bons hábitos.

E por favor! Isso vai além de saber cantar hino, sentar composto na carteira escolar e tratar bem aos outros. Mas seus filhos e netos só terão esses direitos se não ficarmos parados enquanto desmontam tudo o que foi construído.

Em tempo: A Escola Normal Padre Anchieta foi instalada em 31 de março de 1913 com o nome Escola Normal do Brás e que funcionou como Escola Normal Primária, até 1920. Era a segunda escola de São Paulo.
A partir dessa data, passou a ser do mesmo tipo de todas as Escolas Normais do Estado, isto é, possuindo anexos, o Grupo Escolar Modelo e a Escola Complementar, e como as outras, com um curso regular de quatro anos.
A Escola Normal funcionou, a princípio, num casarão na Avenida Rangel Pestana, 419. Depois, a Padre Anchieta foi instalada em um prédio quase centenário, que hoje abriga a Oficina Cultural Amacio Mazzaropi, na av. Rangel Pestana 2401, e foi onde minha mãe (foto) e minha tia estudaram.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente, sua opinião é sempre bem-vinda!

Duas vidas ou uma só basta?

Duas vidas ou uma só basta? : Não me lembro de quem foi que disse a frase: “deveríamos ter duas vidas, uma pra ensaiar e outra para represen...