Vou começar esse texto pedindo esculpas antecipadas pelos
escorregões que vou tomar enquanto relato uma parte de tudo o que eu e milhões
de pessoas estão passando. Não que eu saiba o que cada um dos 27,6 milhões esteja
passando, mas sou uma deles e posso falar por mim.
Primeiramente, explico esse número gigante. O IBGE acaba de
publicar uma lista de desemprego, na qual afirma que falta trabalho para 27,6 milhões
de brasileiros. E, como meu cérebro não fritou com todos os absurdos que vejo
sendo feitos e ditos neste país, pergunto: uai! As tais reformas não eram para
diminuir o desemprego?
Pois é. Não diminuiu. Quando essa roda da fortuna começou a
girar loucamente, tínhamos menos da metade desse número que o IBGE publicou
neste meio de Agosto. Não melhorou nada. Temos mais e mais trabalhadores,
homens e mulheres, jogados à margem de tudo, em uma situação de desespero.
Vou relatar um pouco do que tenho passado nestes quatro anos
e talvez eu consiga passar o desespero que sinto em tudo. Há quatro anos fui
demitida de um trabalho porque a pessoa que me contratou foi fazer outra coisa
e deixou todos nas mãos de alguém que, por puro despeito, jogou tudo e todos
fora só para mostrar que o poder é o que importa.
Parece com a situação do Brasil agora? É porque é. Mesmo em
dimensões menores, afinal eu era uma funcionária de uma prefeitura, é assim que
todas as coisas ligadas ao serviço público estão funcionando. Ninguém se mexe
para fazer nada, consertar nada ou criar nada. Mas se for para destruir algo só
para mostrar que pode fazer isso... Fará!
Nestes quatro anos tenho feitos serviços na minha área
(Comunicação) de forma avulsa, mas sem deixar de lado a procura por um trabalho
efetivo, que me garanta o mínimo de dignidade. Mas não tenho sido bem-sucedida
e sim, isso me leva a um desespero, porque não consigo me concentrar em como
melhorar meu trabalho pensando que talvez amanhã eu não consiga pagar pelo teto
que está sobre minha cabeça. Ou pela
comida que está na minha mesa.
Sabe aquela hora em que tudo à sua volta começa a quebrar? Dentes,
eletrodomésticos etc. ou quando você começa a pensar que se gastarmos aqueles
10 reais pode faltar pra comprar o remédio novo que o cardiologista receitou e
que NÃO está na farmácia popular? Pois é. Esses são uns poucos exemplos de como
a minha cabeça tem girado em círculos.
As coisas quebram; as despesas mensais só aumentam, mesmo
que você esteja consumindo cada vez menos; o gás acaba e vocês (se moram no
mesmo país que eu) devem saber a quantas andam os preços. Como ser racional e
pensar sobre alguma saída?
Minha cabeça está tão confusa com tantas informações e
acontecimentos que me sinto o ser mais incompetente do universo em expansão. E
piora quando vejo amigos e colegas de profissão, muito mais talentosos que eu,
passando problemas parecidos.
Existe uma saída para o caos? Me apontem!
E no meio desse caos vêm algumas pessoas e começam a falar
em soluções, nas quais você já pensou, mas que são todas de longo prazo, sendo
que você precisa de alguma certeza AGORA. Não sei como explicar, mas é difícil
pensar no concurso público que você vai prestar (e que muda de data toda hora)
e lembrar que nenhum dos seus clientes avulsos mandou sequer um texto para você
fazer e sua conta bancária está com mais furos que uma peneira.
Uma das minhas “saídas” para a situação foi a criação deste
blog, que fará um ano semana que vem e, com muitos Page views, graças a Deus!
Mas até isso está me tirando do sério. Explico: este blog está hospedado no
Google, e dependo de visualizações e cliques, que me rendiam em média uns dois
dólares diários. Um belo dia, no qual tive mais de duas mil visitas de página,
de repente (!), fiz uns 50 centavos. E, sem a menor explicação, meus ganhos
diários foram suprimidos, mesmo com o crescimento de leitores.
Hoje eles mandam uma mensagem querendo entender como é que estou
ganhando menos, e depois de eu mexer e tentar entender a pergunta, já que o
Google cortou minha margem de ganhos, eles mandam outra mensagem dizendo que
TALVEZ eles tenham errado em alguma coisa. Mas não explicaram o que está errado.
E como se já não bastasse todo o caos, ainda tenho que entender
porque as regras mudam no meio do jogo. É assim que muitos brasileiros estão se
sentindo com relação a tudo. Com direitos sendo suprimidos e regras sendo
mudadas nos últimos 10 minutos de jogo.
E voltando ao assunto que iniciou isso, por favor, perdoem
esse texto maluco que parece sem pé nem cabeça, mas de repente vejo que estou
no meio de 27,6 milhões de pessoas procurando trabalho, e, acreditem, no meu caso, estou procurando em todas as
plataformas possíveis (redes sociais, e-mail, agência de emprego, amigos...), e
ouço algumas pessoas dizendo: “está vendo? Tem um monte de gente na mesma que
você”.
Bem, isso não me consola. Só me deixa mais desesperada,
porque esses milhões de pessoas precisam do direito básico de ganhar dinheiro
trabalhando honestamente e ninguém merece ser tratado como lixo porque não tem
trabalho. E estamos sendo tratados como lixo. Mesmo quem tem emprego. Ou vocês
realmente acreditam que fomos nós, trabalhadores, que quebramos a previdência,
as empresas, os bancos?
Não sei quanto a todos os que têm emprego ou chances de
progredir, mas eu estou muito, mas muito cansada mesmo, e não creio que uma
eleição possa mudar isso. Precisamos de um novo pacto social antes de pensar em
como recomeçar essa democracia tosca que criamos no Brasil. E precisamos de
pessoas que pensem em políticas públicas e em fazer o trabalho para o qual se
elegeu antes de pensar que tem algum poder e quer mais.
Garanto que eu não estou querendo o poder, mas sei que nós todos
queremos os nossos direitos. Para começar, os diretos que temos há muitos anos, de ter educação, saúde, segurança, além do direito de conquistar um lugar ao sol com o nosso trabalho.
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