terça-feira, 21 de novembro de 2017

Estamos andando rápido para lugar nenhum?



Como a cultura “fast” deprecia valores

Durante algum tempo na minha carreira, escrevi artigos sobre gestão do tempo. Neles o mote principal era se organizar para não ficar amarrado a projetos que nunca terminam e que, quase sempre, causam insatisfação naqueles que trabalham neles.
Muito tempo depois, vejo que no que diz respeito a “gestão de tempo”, as coisas não mudaram quase nada. Ainda se discute como está o tempo dos profissionais. Se essa fosse uma pergunta direta, provavelmente a resposta seria um daqueles lugares comuns: ‘estou sem tempo’, ‘o tempo está corrido’, ‘o tempo está espremido’, ‘o tempo está curto, apertado, louco’, ‘o dia precisa ter 48 horas’ etc.
Já naquela época eu questionava a carga colocada sobre os ombros dos profissionais, que tinham de dar conta de montes de deveres, sem ter as contrapartidas de salários compatíveis, ou mesmo tempo hábil para a realização de tarefas. Pior, as metas a serem atingidas eram quixotescas, o que, para mim, sempre representou um desrespeito com o profissional, que acabava ‘tocando’ a vida do jeito que dava, sem atentar para tudo o que acontecia ao redor.

A vida é para ser vivida e não empurrada

Anos depois, aqui estou eu, discorrendo sobre o mesmo tema e percebendo que a coisa toda só desceu a ladeira. As tarefas continuam se acumulando, pois as empresas acham que enxugar é cortar profissional da folha de pagamento ou contratar alguém “bem baratinho” para um trabalho que custa muito e dá muito prejuízo caso não seja bem executado.
Para o profissional, o segredo é estar atento ao momento presente, sem projetar o que vem, ou pode vir, depois, mas, nos dias em que vivemos, parece que planejar virou supérfluo. Aí tudo se torna uma bola de neve, com profissionais acumulando trabalhos e perdendo a capacidade de criação, de solução de problemas, de manter o foco no que realmente precisa ser feito, e, de quebra, perdendo a calma. Tudo isto resulta também na queda da qualidade de vida e de saúde.

Não se atropele. Faça as coisas com calma

Sei que empresas precisam de produtividade, que deveríamos cobrar também dos serviços públicos, mas tem gente confundindo o ‘fazer depressa, mas cuidadosamente’, com o ‘fazer depressa e de qualquer jeito’. É a tal cultura do fast, que está fazendo as empresas perderem o que têm de mais valioso, que é a criatividade, os valores essenciais e fundamentais, o espírito de equipe, a energia e qualidade no relacionamento com o mercado.
Aliás, de tudo que aprendi ao longo dos tempos, a principal coisa é que nada pode ser feito sem planejamento, sem criatividade, sem reflexão e tentativas, mas, principalmente é preciso respeitar o profissional. Pode parecer ingenuidade minha falar sobre essas coisas em um momento em que essas palavras perderam o significado, e que estamos vivendo, não uma recessão, mas um retrocesso de tudo o que realmente tem valor.
Precisamos (todos nós) nos dar algum tempo para respirar antes de realizar algo. Precisamos entender que andar mais devagar pode ser melhor para atingir os objetivos. Vamos introduzir a cultura do slow nas nossas vidas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente, sua opinião é sempre bem-vinda!

Duas vidas ou uma só basta?

Duas vidas ou uma só basta? : Não me lembro de quem foi que disse a frase: “deveríamos ter duas vidas, uma pra ensaiar e outra para represen...