Como a cultura “fast” deprecia valores
Durante algum tempo na minha carreira, escrevi artigos sobre
gestão do tempo. Neles o mote principal era se organizar para não ficar
amarrado a projetos que nunca terminam e que, quase sempre, causam insatisfação
naqueles que trabalham neles.
Muito tempo depois, vejo que no que diz respeito a “gestão
de tempo”, as coisas não mudaram quase nada. Ainda se discute como está o tempo
dos profissionais. Se essa fosse uma pergunta direta, provavelmente a resposta
seria um daqueles lugares comuns: ‘estou sem tempo’, ‘o tempo está corrido’, ‘o
tempo está espremido’, ‘o tempo está curto, apertado, louco’, ‘o dia precisa
ter 48 horas’ etc.
Já naquela época eu questionava a carga colocada sobre os
ombros dos profissionais, que tinham de dar conta de montes de deveres, sem ter
as contrapartidas de salários compatíveis, ou mesmo tempo hábil para a
realização de tarefas. Pior, as metas a serem atingidas eram quixotescas, o
que, para mim, sempre representou um desrespeito com o profissional, que
acabava ‘tocando’ a vida do jeito que dava, sem atentar para tudo o que acontecia
ao redor.
A vida é para ser vivida e não empurrada
Anos depois, aqui estou eu, discorrendo sobre o mesmo tema e
percebendo que a coisa toda só desceu a ladeira. As tarefas continuam se
acumulando, pois as empresas acham que enxugar é cortar profissional da folha
de pagamento ou contratar alguém “bem baratinho” para um trabalho que custa
muito e dá muito prejuízo caso não seja bem executado.
Para o profissional, o segredo é estar atento ao momento
presente, sem projetar o que vem, ou pode vir, depois, mas, nos dias em que
vivemos, parece que planejar virou supérfluo. Aí tudo se torna uma bola de
neve, com profissionais acumulando trabalhos e perdendo a capacidade de
criação, de solução de problemas, de manter o foco no que realmente precisa ser
feito, e, de quebra, perdendo a calma. Tudo isto resulta também na queda da
qualidade de vida e de saúde.
Não se atropele. Faça as coisas com calma
Sei que empresas precisam de produtividade, que deveríamos
cobrar também dos serviços públicos, mas tem gente confundindo o ‘fazer
depressa, mas cuidadosamente’, com o ‘fazer depressa e de qualquer jeito’. É a
tal cultura do fast, que está fazendo
as empresas perderem o que têm de mais valioso, que é a criatividade, os valores
essenciais e fundamentais, o espírito de equipe, a energia e qualidade no
relacionamento com o mercado.
Aliás, de tudo que aprendi ao longo dos tempos, a principal
coisa é que nada pode ser feito sem planejamento, sem criatividade, sem
reflexão e tentativas, mas, principalmente é preciso respeitar o profissional.
Pode parecer ingenuidade minha falar sobre essas coisas em um momento em que
essas palavras perderam o significado, e que estamos vivendo, não uma recessão,
mas um retrocesso de tudo o que realmente tem valor.
Precisamos (todos nós) nos dar algum tempo para respirar
antes de realizar algo. Precisamos entender que andar mais devagar pode ser
melhor para atingir os objetivos. Vamos introduzir a cultura do slow nas nossas vidas.
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